UM DELICADO OLHAR NA VIDA DE UM IMIGRANTE
     
 

PUBLICADA EM 14.02.14

Myrna Silveira Brandão

O destaque ontem na 64ª edição do Festival de Berlim foi Macondo, de Sudabeh Mortezai, último título a ser mostrado na competitiva oficial do evento.

 
O filme marca a  estreia satisfatória de Mortezai e traz uma visão intimista dentro de uma comunidade de refugiados de Viena, com foco num garoto checheno de 11 anos de idade.
 
O bom elenco conta com  Ramasan Minkailov, Aslan Elbiev, Kheda Gazieva, Rosa Minkailova, e Iman Nasuhanowa. 
 
O título vem do nome de um assentamento nos arredores da cidade, onde Ramasan (Ramasan Minkailov)  está dividido entre as descontrações da infância e a responsabilidade de ser um chefe de família.
 
Ele vive com sua mãe, Aminat (Kheda Gazieva) e duas irmãs mais novas (Rosa Minkailova e Iman Nasuhanowa) numa habitação sombria no Leste Europeu junto com imigrantes africanos.
As crianças vão à escola, brincam juntas no quintal de concreto e a integração se dá principalmente durante os jogos de futebol.
 
Ramasan, que era ainda muito criança quando a família fugiu da Chechênia,  lembra do seu pai o idealizando como um herói de guerra que morreu lutando contra os russos.  Ele mantém um olhar amoroso sobre sua mãe que é chegada a crises de depressão. Como fala alemão melhor do que ela, atua como intérprete nas reuniões do assentamento,  mas a impossibilidade de apresentar um atestado de óbito para o pai, começa a causar problemas.
 
O filme atinge seu ápice dramático com a chegada ao assentamento de Isa (Aslan Elbiev), um checheno que conhecia o pai de Ramasan e claramente teve uma relação conturbada com ele. Ele começa a ajudar a família e quando Ramasan começa a fazer perguntas sobre seu pai, não tem respostas condizentes com a imagem glorificada que fazia dele.  Ao perceber, durante uma festa na comunidade chechena,  que Isa e sua mãe estão atraídos um pelo outro,  torna-se hostil.
 
O trabalho da direção com os atores é impecável e o envolvimento das comunidades imigrantes reais traz autenticidade ao filme, evidenciando pessoas que vivem à margem da sociedade e que permanecem invisíveis para a maioria de nós. 
 
Mortezai,  que se mudou de Teerã para Viena aos 12 anos, expressa os conflitos e desafios de assimilação cultural com um viés honesto e suavidade, adotando um estilo documental na abordagem, enriquecida por sua evidente afetividade com os personagens.
 
Nos festivais dedicados à descoberta de novos talentos, o filme deve ter uma boa receptividade, mas talvez tenha uma distribuição limitada na chegada ao público.
 

     
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