AS LIÇÕES DE GODARD
     
 

PUBLICADA EM 16.09.14

Myrna Silveira Brandão

Adeus à Linguagem, de Jean-Luc Godard foi mostrado ontem na 52ª edição do Festival de Nova York.

Aos 83 anos, o consagrado cineasta vem dando lições sobre cinema desde quando se tornou um dos principais representantes  da Nouvelle Vague,  em filmes como Acossado (1960) e “O demônio das onze horas” (1965) entre muitos outros.
 
Seu novo filme repete aqui o sucesso que teve em Cannes / 2014, onde ganhou o Prêmio do Júri de melhor diretor dividido com Mommy, do canadense Xavier Dolan (25 anos).
 
O tributo uniu duas gerações:  uma com uma carreira em ascensão, outra comprovando que o veterano cineasta francês está em plena forma.
 
Godard não foi a Cannes, mas Dolan declarou ao receber o prêmio.
 
“Acho que foi um gesto deliberado do júri por causa das nossas idades. E por procurarmos a liberdade no cinema, mas com estilos diferentes”, avaliou.
 
O diretor francês – que também não veio aqui – detalha, mais confundindo do que explicando, o seu filme.
 
“É uma história simples: uma mulher casada e um homem solteiro se encontram. Se amam.  Brigam... Um cachorro vaga entre a cidade e o campo. As estações passam. O homem e a mulher se encontram novamente. O cachorro encontra os dois”, descreve Godard, dando margem a muitas interpretações para o seu inusitado filme.
 
A história segue, o antigo marido aparece e um segundo filme começa, parece o mesmo que o anterior, mas não é bem assim.  Enquanto isso, pessoas falam da queda do dólar, da verdade na matemática e da morte de um passarinho.
 
No fundo, o filme é uma  espécie de  poema sobre um cão que liga duas pessoas: o casal que está tendo um caso. Quase metade do filme mostra a visão itinerante do cachorro, cores fosforescentes e imagens em 3D desfocadas.
 
O cão parece sozinho  e maravilhosamente livre, vagando numa paisagem esplendorosa das florestas e das águas.  Mas ele também parece muitas vezes triste e sua solidão afeta o filme.
 
Como é dito numa cena –  não se pode ser livre quando se olha nos olhos do outro – enfim é difícil ser livre assim como também é difícil ficar sozinho. 
 
O filme tem sido muito comentado inclusive nas redes sociais com avalições, em sua maioria, positivas. O crítico da revista francesa “Les Inrockuptibles” qualificou o filme como “o mais brilhante que viu em Cannes”.  “O filme é uma tela abstrata e experimental”, diz um comentário no Twitter.
 
Segundo o jornal “Le Figaro”,  alguns “riram do absurdo do filme”.  Já Peter Bradshaw, crítico do jornal britânico The Guardian o  classificou como “errático, excêntrico, exasperante e louco”.
 
Descrito pelo próprio Godard  “como uma valsa em forma de filme”, ele classifica seu filme.
 
“Esse é o meu melhor trabalho”, avalia o veterano mestre  que demonstra total segurança no que faz. Não que não demonstrasse antes, mas em Adeus a Linguagem, a inovação  da narrativa é tão gritante que, em certo momento, nos damos conta que não há improvisações, foi tudo calculado.
 
Em última análise, Godard  não faz filmes fáceis, suas obras são mesmo um desafio até para o cinéfilo mais acostumado com produções experimentais e únicas.  Adeus à Linguagem é mais uma delas.
 

     
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