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PUBLICADA EM 25.09.14
Myrna Silveira Brandão
Time out of Mind, de Oren Moverman, movimentou ontem o Festival de Nova York.
O filme foi mostrado numa sessão prévia para a imprensa, na qual Gere foi o centro das atenções.
Ele é George Hammond, um morador de rua, carente de clareza mental, habitante de abrigos, edifícios vagos e ruas sujas, que precisa arrumar comida para comer, cama para dormir e bebida para sustentar seu vício. Ele simplesmente passou para o lado marginal da sociedade depois de uma tragédia familiar.
George está grisalho, envelhecido, se move com insegurança e parece improvável que consiga encontrar o equilíbrio novamente.
A história segue mostrando o personagem vagando pelas ruas de Manhattan,com aparência desgrenhada, pedindo esmolas em ruas movimentadas, enquanto luta para juntar algum dinheiro, tentar se reconectar com sua filha (Jena Malone) e colocar sua vida de volta nos eixos.
Moverman e seu diretor de fotografia de longa data Bobby Bukowski filmaram George através de vidros, vitrines, portas de correr, reflexos em um caminhão de sorvete e inúmeras outras superfícies transparentes para aumentar a sensação de desamparo.
O cineasta não se preocupou em contar como a vida de George desmoronou, tanto como o seu declínio o tem afetado e o que isso significa no seu dia a dia.
O filme é um projeto antigo do ator e produtor Richard Gere para o diretor e roteirista Oren Moverman,
Moverman é considerado um dos roteiristas mais inovadores do cinema independente (escreveu o roteiro de Não Estou Lá) e é também diretor do ótimo drama militar The Messenger,
O diretor fala sobre origem do projeto, as dificuldades para fazê-lo e Gere revela que descobriu o que é ser invisível.
Como aconteceu o projeto
“O projeto decolou quando Gere (o ator atuou em Não Estou lá) me encontrou numa festa e me enviou um roteiro sobre um homem sem teto escrito por Jeffrey Caine. Motivado pela experiência de ver a indiferença dos vizinhos para um mendigo doente mental perto do meu apartamento em Manhattan, eu comecei a escrever um rascunho”.
As dificuldades para fazer o filme
“Uma vez que estávamos fazendo um filme sobre apenas um dos muitos moradores de rua e que, em tese, não sabíamos nada sobre ele, tudo isso se encaixou muito bem no que queríamos fazer”.
O trabalho de pesquisa
“Na pesquisa para o filme, eu e Gere visitamos vários abrigos, conversamos com várias pessoas, colhemos muito material sobre os sem teto”.
A decisão de filmar à distância através de vários obstáculos
“Nós nos esquecemos de certo tipo de experiência de ir ao cinema. Já que a televisão tem a oportunidade de contar histórias com tantas horas de duração, o cinema precisa oferecer algo diferente, talvez impulsionado um pouco menos pela narrativa e mais pelas imagens”.
Gere explicando o que é ser invisível.
“A gente irradia fracasso sendo um sem teto na rua. Ninguém quer ficar perto de você. No primeiro dia de filmagem, com um copo na mão, eu comecei a me aproximar das pessoas, não para incomodar, mas apenas me aproximando, mas ninguém veio até mim. Mesmo quando alguém me deu um dólar, evitou me olhar. Essa foi a primeira vez que eu realmente vi por dentro o que isso significava”.
Gere revelando que foi uma profunda experiência existencial
“Eu acho que nós temos o desejo de sermos conhecidos, sermos vistos. Eu não vejo esse cara como um sem teto. Eu o estou vendo como nós, que desejamos ter amor, afeição, sermos vistos, sermos abraçados, sermos parte de tudo”.
Gere sobre ter feito o filme
“É uma história profundamente humana que conseguimos transformar em um filme poderoso e que fala com todo o mundo. Estou muito orgulhoso em ter participado deste filme que conta uma história emocional sobre perda, conexão e possibilidade de redenção”.
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