O CRIADOR DO ZERO
     
 

19.09.13

Carlos Augusto Brandão

Miyazaki mostra seu novo filme no NYFF

Nova York

Em 2008,  Hayao Miyazaki encantou o mundo com o belo A Viagem de Chihiro, adaptação de uma história de Lewis Carroll.

Considerado o mestre do cinema de animação japonês, Miyazaki tem provocado polêmicas com The Wind Rises (Kaze Tachinu), seu novo trabalho, destaque da 51ª edição do  Festival de Nova York.

No filme, Miyazaki resgata e humaniza o protagonista Jiro Horikosh (1903-1982), criador do lendário Zero, avião de caça da Marinha Imperial Japonesa durante a Segunda Guerra Mundial. 

O diretor tem sido criticado – inclusive com  manifestações nas redes sociais – por realizar um filme sobre um homem que construiu um avião que acabou se transformando numa arma de guerra poderosa.

Miyazaki se defende  afirmando que quis apenas retratar a vida de Horikoshi sem fazer julgamentos de valor; que ele era o homem mais talentoso de sua época no Japão e que, quando construiu o Zero,  não estava pensando em armas, mas apenas em desenhar aviões requintados de alta tecnologia.

“Toda uma geração de homens japoneses, inclusive eu, cresceu com sentimentos complexos sobre a Segunda Guerra Mundial e o Zero simbolizava muito isso”, afirma Miyazaki, acrescentando que inúmeros admiradores do Zero se sentem até culpados por gostar da aeronave.

“A maioria dos fãs do Zero no Japão tem hoje um complexo de derrota, com influências na sua autoestima. Ao fazer este filme, espero ter trazido  Horikoshi e  o orgulho de seu invento de volta a essas pessoas”, enfatiza.

Miyazaki ressalta que Horikoshi fez tudo o que podia, mas grande parte dos seus esforços foi em vão, a ponto de deixar escrito num desabafo que estava sendo parcialmente apontado como um dos responsáveis pela guerra, mas que não aceitava o fato. 

“Ele se dedicou completamente ao seu sonho de construir um avião bonito e eficiente, e atingiu o auge de sua carreira na década de 1930, projetando o Type 96 que aparece no filme e depois o Zero. Mas a escassez de engenheiros de guerra o obrigou a trabalhar mais, a fim de desenvolver novos aviões de combate e aperfeiçoar o Zero”, destaca Miyazaki. 

Yoshitoshi Sone (1910-2003), o engenheiro que ajudou Horikoshi no desenvolvimento do Zero, também está no filme e  teria dito, ao ver a aeronave ser utilizada para missões de guerra, que  isso era angustiante e, se  tantas pessoas iriam morrer, eles  não deveriam ter construído o avião.

Miyazaki não afasta a possibilidade de Horikoshi algum dia ter sentido a mesma coisa, mas ressalva, ao mesmo tempo, que ele sabia não ser o responsável  pela forma como o Zero passou  a ser utilizado.

“Eu também não entendo por que essa responsabilidade  deva cair em seus ombros: naquele momento ele era um engenheiro fazendo seu trabalho”, ressalta o diretor, que tinha sido aconselhado por familiares e amigos a não fazer o filme.

“Houve um momento até que pensei que estavam certos, mas soube que Horikoshi disse uma vez que tudo que ele queria era fazer algo bonito. Então eu tive certeza que tinha encontrado o tema do meu filme”, conclui.

     
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