SAINT LAURENT NAS TELAS
     
 

PUBLICADA EM 30.09.14

Carlos Augusto Brandão

Saint Laurent, de Bertrand Bonello, foi mostrado em sessão de gala para o público da 52ª edição do Festival de Nova York.


O diretor está de volta ao festival – onde em 2003, integrou a programação com Tirésia, uma adaptação do conto mitológico grego e em 2011 com Os Amores da Casa de Tolerância.
   
O sétimo longa-metragem de Bonello – que é também pianista clássico – se concentra na turbulenta década de 1967 a 1976, quando Saint Laurent abandona a Maison Dior para fundar sua própria casa de costura com o amigo e sócio Pierre Bergé.
 
Saint Laurent não poupa sequências com as modelos desfilando suas belas criações, e termina com o desfile de 1976, aquele que o próprio Yves considerava o seu mais inspirado.
 
Bonello consegue ir além da simples biografia para elaborar um filme delirante, com momentos quase hipnóticos e envoltos num clima surrealista, em que as aflições e fragilidades do artista conduzem o ritmo da narrativa.
 
O elenco tem um excelente desempenho:  Gaspard Ulliel como Saint Laurent, Jérémie Renier vivendo Pierre Bergé e Louis Garrel como Jacques de Bascher, um dos amantes do estilista. 
 
Saint Laurent, idoso e já decadente, é vivido com  perfeição pelo austríaco Helmut Berger, ator dos filmes de Luchino Visconti.
 
Leia os principais trechos da coletiva com a imprensa, na qual o diretor francês falou sobre a origem do projeto, o viés que imprimiu a Saint Laurent  e a analogia com a obra de Visconti.
 
Como foi a pesquisa para o filme?
 
“Embora tenha tido acesso aos arquivos, muitos dos trajes  que ele fez não existiam mais ou não puderam ser encontrados. Tivemos então  que recriar, contratando pelo menos 20 costureiras para refazer vestidos iguais aos que ele desenhava”. 
 
Por que decidiu pela não linearidade, reviravoltas, telas divididas, momentos de contraponto?
 
“Uma das primeiras opções que escolhemos para nos guiar foi o contraste. Para construir a tensão que queríamos, em vez de uma estrutura linear, o filme tinha que ser baseado em contrastes”.
 
Numa época em que a maioria prefere digital, por que a opção de filmar em 35mm?
 
“Eu realmente queria filmar nesse formato.  Ele dá uma leveza, uma riqueza de textura que o digital pode algumas vezes mascarar”.
 
Como definiria o filme? 
 
“É uma ficção baseada em fatos reais. Fala da vida de uma pessoa excepcional e, como queríamos, retrata  também a decadência no sentido etimológico do termo, como algo chegando ao fim”. 
 
Saint Laurent é um dos últimos grandes  estilistas. Acha que a morte dele significou o fim de uma era?
 
“Sim, acho que representou a passagem das coisas feitas com arte para as coisas industrializadas. Mesmo quando ainda estava vivo, no final já era outro e mostramos isso literal e radicalmente no filme, mudando até o ator e escalando Berger para vivê-lo na velhice”. 
 
Berger era o ator fetiche de Visconti. Há semelhanças da suntuosidade e a sensualidade do filme com a obra dele – Violência e Paixão,  Ludwig, O Leopardo...?
 
“Sem dúvida. Visconti se importava muito com o amor e a beleza.  Acho que tanto os filmes dele quanto Saint Laurent refletem isso
 

     
  » Imprimir  
 
   
  Seja o primeiro a comentar esta matéria (0) Comentário  
   
   
  Voltar