ALMAS DE ARGILA
     
 

23.09.13

Carlos Augusto Brandão

Pahn fala no NYFF sobre seu filme que também integra a programação do Festival do Rio

Nova York

The Missing Picture, de Rithy Panh,  era aguardado com curiosidade aqui no Festival de Nova York, não só pela obra anterior do diretor, mas também  por ter ganhado  o Prêmio de melhor filme em Cannes na Mostra Um Certo Olhar.

Outra razão é que o novo filme de Panh, é  diferente de tudo que já se viu.  Para entender isso é preciso ter em conta que o diretor tem uma trajetória de documentarista em trabalhos  quase sempre focados nas tragédias ocorridas no Camboja, durante o regime do “Khmer Vermelho”. 

O próprio Panh, nascido na capital cambojana, passou por muitas delas durante sua infância, até  fugir do país e se transferir para a França, onde reside atualmente.

Contada  através de imagens expressivas de bonecos de argila, a história é narrada na voz de Randal Douc,  representando  um homem agora em seus 50 anos olhando para o seu  passado.

Em tom relativamente neutro, ele vai explicando os distintos episódios que afetam os  personagens, desde ações cotidianas como os trabalhos agrícolas até aqueles  mais dramáticos em face da progressiva ameaça dos guerrilheiros.

O filme é muito interessante  e a coletiva com o diretor – da qual participou o MCcinema –   elucidou muitos pontos da história. Leia os principais trechos:

Por que quis contar a sua história através de figuras de barro?

“Sei que é muito diferente dos meus filmes anteriores e fazer essas figuras não foi algo que pensamos de imediato, mas queríamos centrar a história sob o ponto de vista da criança. Além disso, essas figuras são feitas de argila e água e secam ao sol. Elas são basicamente como nós que viemos do chão e vamos voltar para o chão. Mas também é importante dizer que na cultura asiática, essas figuras não são apenas uma obra de arte, são consideradas como tendo uma alma. Por isso as  escolhemos para contar a história”. 


E qual a razão de mostrar o making of das figurinhas, ou seja, mostrar o artista as esculpindo?

“Achamos que era muito importante mostrar de onde elas vieram,  o ato da criação. É como fazer um personagem ganhar vida. A gente vê os bonecos nas mãos do escultor e é como dar uma alma para a escultura”. 

Foi também para mostrar que elas não existiam antes do filme?

“Sim, as estatuetas não existiam antes, foram criadas  junto com o escultor e foi realmente a primeira vez que ele tinha feito algo assim, porque na verdade, ele é um carpinteiro e não um escultor. Foi muito difícil porque como vocês viram, não é algo animado. As estatuetas são pequenas, fixas,  não se movem, então tivemos que movê-las, dar vida para elas”. 

O que significa a imagem forte  no início e conclusão do filme, com as ondas quebrando na areia?

“Quando estamos submersos em nossas memórias, elas vão e voltam como ondas, e é irresistível.  Às vezes, nos sentimos como se estivéssemos nos afogando  da forma como é representado nas cenas”. 

Em momentos poderosos do filme, as figuras de barro são sobrepostas em imagens de arquivo. Por que escolheu contar a sua história dessa maneira?

“Eu assisti a quilômetros de imagens de arquivo e quando eu assistia eu as mantinha  em minha memória. Então pensei que poderia fazer dessa forma.
Quando você vê, por exemplo, a cena do céu e as crianças estão voando (imagem tirada de um avião bombardeando o Camboja)  é uma forma de dizer: “Você pode nos bombardear, mas ainda podemos flutuar e voar como as crianças”. 

     
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