NOVOS CAMINHOS
     
 

24.09-13

Carlos Augusto Brandão

Desplechin fala de seu inusitado filme no NYFF

Nova York

O diretor Arnaud Desplechin esteve aqui no Festival de Nova York em 2008 com seu filme Um Conto de Natal, sobre as tensas relações de uma família que transita entre o tênue fio de amor e ódio e, nesse caminho, fala da morte, da punição, do arrependimento e do perdão.

Conhecido por diálogos que causam grande desconforto aos espectadores, o diretor francês retorna ao evento neste ano com Jimmy P: Psychotherapy of a Plains Indian, um filme completamente diferente em sua carreira de nove filmes iniciada em 1991.

Baseado num episódio real, o filme é uma adaptação do livro Reality and Dream: Psychotherapy of a Plains Indian, escrito pelo psicanalista francês  George Devereux com base em suas experiências e segue a história de um soldado  índio-americano, conhecido por Jimmy Picard (Benício Del Toro),  membro da tribo  Blackfoot.

Após a II Guerra Mundial, Jimmy é atormentado por muitos problemas psicossomáticos  como tonturas, cegueira temporária e  perda de audição. Na ausência de causas fisiológicas e com o diagnóstico de esquizofrenia, a direção do hospital decide seguir o conselho contrário de  Devereux que, como psicanalista  e antropólogo especializado em culturas nativas americanas, afirma que Jimmy não é doente mental.

O filme é a história do encontro e amizade entre esses dois homens que aparentemente não tem nada em comum. A trama expõe a exploração das memórias e sonhos da experiência de Jimmy, mostra como eles trabalham em conjunto e a cumplicidade crescente entre ambos.

Del Toro está perfeito no papel do contido Jimmy P. e Mathieu Amalric – que interpreta Devereux – transmite com brilhantismo como a ligação entre os dois acabou por formar um laço de amizade, que vai muito  além de uma relação médica e profissional.

Na coletiva após a projeção – da qual participou o MCcinema – Desplechin disse que o livro, publicado em 1951, contando como Jimmy foi  tratado no hospital militar de Topeka, Kansas, sempre o fascinou.

“Mas fazer um filme com a história foi completamente diferente”, completou o diretor que realizou um trabalho com surpreendente generosidade, através da construção de  um relacionamento humano entre dois seres humanos bastante diferentes.

Tudo funciona: os flashbacks repentinos habilmente inseridos, o diálogo inteligente e a precisa  reconstrução da época.

Alheio aos comentários de ter realizado um “trabalho anti Desplechin”, o diretor disse que sempre quis fazer filmes que fossem estranhos e pessoais.

“E sempre achei que eles eram singulares ao invés de genéricos”, ressaltou, contando que descobriu o livro de Devereux há bastante tempo e, desde então, ficou com a história em sua mente.

“Inicialmente ele me impressionou muito  por causa  do título . Quando o vi, pela primeira vez, numa livraria – Psicoterapia de um índio Plains – parecia que ele tinha sido feito para mim. Não foi tanto a parte teórica que mais me impressionou, mas o  diálogo entre um paciente e seu analista”, ressaltou explicando o viés seguido para compor a narrativa.

“O roteiro é como ler um romance e  é bem  simples: é a história de dois homens que não se conhecem,  dialogam durante muito tempo até o último adeus e nunca mais se verão outra vez”,  detalha  Desplechin  definindo  o  seu filme. 

“O foco central é a força dramática desses diálogos e  eu achei que era um bom tema para um filme”, complementou o simpático diretor, autor do ótimo  Reis e Rainhas e no qual, embora de forma diferenciada, também aborda questões ligadas ao relacionamento humano.

     
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