O ESTRANHO FILME DE MING-LIANG
     
 

25.09.13

Carlos Augusto Brandão

Nova York - Stray Dogs, de Tsai Ming-liang, foi mostrado ontem no Festival de Nova York (27.09 a 13.10) e, como sempre acontece com os filmes do cineasta, dividiu opiniões.

Enquanto admiradores do estilo hermético do diretor aplaudiram, outros deixaram a sala antes do final da projeção.  De fato, seus filmes  não são para todos os espectadores. O diretor de Formosa é conhecido pelo uso de planos imóveis e longos,  narrativa lenta e clima pesado.

O filme concorreu ao Leão de Ouro em Veneza, onde ganhou o Grande Prêmio do Júri.

O novo filme de Ming-liang  segue um pai (Lee Kang Sheng) e seus dois filhos vagando na periferia de Taipé, se embrenhando nas matas e rios dos arredores, quase sempre na chuva.

As crianças vivem com o pouco dinheiro que o pai ganha, se alimentando com restos de alimentos vindos de shopping centers. Em um desses shoppings, uma funcionária  se encanta pela menina e acaba por salvar as crianças de um desfecho trágico.

Também como é característico nos filmes de Ming-liang, não há o desenvolvimento de uma história, as coisas vão simplesmente acontecendo.

“Eu sempre optei por este tipo de cinema e este foi provavelmente o mais difícil. Originalmente havia um roteiro sobre um homem desempregado e sua família.  O personagem permaneceu, mas  o roteiro desapareceu”, conta o diretor, que vem anunciando sua despedida do cinema.

“Muitas pessoas, especialmente os jovens, acham que fazer cinema é só diversão, mas na verdade é um monte de trabalho, literalmente trabalho manual. Então depois de 20 anos, a gente realmente se sente cansado. E isso tem a ver com a maneira como eu faço cinema, que  não é bem o estilo de Hollywood”, diz  Ming-liang,  ressalvando que obviamente também necessita ter algum retorno financeiro com seus filmes.

“Meu cinema também precisa ser  um produto comercial, não há dúvida em torno disso, mas buscar apenas bilheteria não é bom.  Se olharmos para trás, para os filmes antigos, embora alguns tenham sido fracos, havia inúmeros excelentes.  Agora parece que a grande maioria é ruim, enfim, de alguma forma, perdemos qualidade no cinema”, ressalta. 

Isso também pode ter reflexos na interpretação dos atores, mas Ming-liang só tem elogios para o desempenho do seu elenco, principalmente Lee Kang Sheng seu ator fetiche.
 
“Eu adoro trabalhar com Lee. Ele faz um monte de coisas que outros atores não querem fazer, por exemplo, eu peço para ele andar muito devagar, para  ficar parado  por horas e assim por diante.  Ele faz coisas que outros não fazem, o que dá muito realismo às cenas, ”, enfatiza.

Para o diretor, a vida atual traz muitas dificuldades para um diretor de cinema.

“Eu não gosto de fazer filmes para o sistema, o cinema como um objeto de consumo limita a minha criatividade. Às vezes, eu me sinto desorientado pela velocidade que é imposta a nós. Para mim a lentidão é uma técnica, um instrumento que ajuda a encontrar outro caminho dentro dessa desorientação”, ensina.

O diretor está de volta ao NYFF,  onde já mostrou vários de seus filmes, entre outros,  What Time is it There em 2001  e  Goodbye Dragon Inn em 2003.

Não deve ter sido atoa que seu estilo estranho e inusitado influiu no convite para integrar o projeto coletivo Cada um com seu Cinema,  que reuniu 33 diretores e teve a participação de Walter Salles, com A 8944 km de Cannes.  Ming-liang participou  com It’s a Dream.

     
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