O DEBUT DA GUATEMALA NA BERLINALE
     
 

PUBLICADA EM 07.02.15

Myrna Silveira Brandão

Pela primeira vez um filme guatemalteco está em competição no Festival de Berlim, o que aumentou a expectativa e fez lotar a prévia para a imprensa e a sessão de gala à noite.

O feito é de Jayro Bustamante que estreia em longas com Ixcanul Volcano, numa coprodução de
La casa de Produccion e Tu vas voir Productions, de Edgard Tenenbaum, produtor de “Diários de Motocicleta”, de Walter Salles.
 
Escrito por Bustamante, Ixcanul, nome do vulcão local no filme, é  inspirado num fato real e narra a história de Maria, uma jovem maia de 17 anos que vive ao pé de um vulcão ativo em Guatemala e aguarda um matrimônio arranjado com o superintendente das terras locais.
 
Ela sonha em conhecer a cidade grande, mas sua posição de mulher indígena, da Tribo  Caqchiquel, não lhe permite se misturar ao mundo moderno.
 
Maria se deixa envolver por Pepe – um jovem trabalhador da plantação, que acena com a possibilidade de ela emigrar para os EUA –  fica grávida e é abandonada por ele.  Quando, devido a uma complicação da gravidez,  o chamado “mundo moderno” salva sua vida, o preço a pagar é muito alto.
 
O filme é protagonizado por Maria Mercedes Croy e Maria Telón e o roteiro foi apoiado na experiência do diretor com o tema – Bustamante  entende o idioma caqchiquel – e sua familiaridade com os costumes maias adquiridos em sua  juventude nas montanhas da Guatemala. 
 
Atores não profissionais, treinados num workshop completam o elenco. Uma curiosidade é que o início da produção coincidiu com uma doença que fechou os cafezais locais, tornando os moradores disponíveis para filmar, o que lhes garantiu uma fonte substituta de renda. 
 
Confira os principais trechos da coletiva após a projeção, quando Bustamante falou sobre o filme e como vê a situação desses povos na Guatemala. 
 
Sobre a mensagem quis passar com “Ixcanul”.
 
“O filme fala da  impossibilidade de uma mulher – que é menor de idade, da tribo  Caqchiquel e que vive longe de uma grande cidade – de determinar seu próprio destino”.
 
Sobre as comparações que tem sido feitas do seu filme com o realismo mágico de Gabriel Garcia Marques.
 
“Fico hesitante e dividido com as comparações do que se passa em Ixcanul com o realismo mágico de  Gabo.  Infelizmente acho que um termo mais apropriado para Guatemala seria o  realismo trágico”.
 
Sobre como sua experiência com o tema, ritos e mitos da cultura maia ajudou na realização do filme.
 
“Ajudou muito e um pouco do que pode acontecer com o não entendimento da cultura e do idioma é mostrado no filme. É um elemento dramático revelador. Os Caqchiquels  não falam ou entendem espanhol. Isso torna mais fácil para os que se exprimem em espanhol, enganá-los quando estão falando entre si”.
 
Sobre o sucesso de Ixcanul e se esperava essa receptividade.
 
“Estou muito feliz de ter feito o filme e espero uma carreira promissora para ele. Essa experiência marcou minha vida e  vai ficar comigo até o fim dos meus dias”.  

     
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