GREENAWAY FALA DO SEU NOVO FILME NA BERLINALE
     
 

PUBLICADA EM 12.02.15

Myrna Silveira Brandão

"Eisenstein in Guanajuato", de Peter Greenaway, foi mostrado ontem no Festival de Berlim, onde concorre ao Urso de Ouro.

No filme, o  ator finlandês  Elmer Back (The Spiral) interpreta o cineasta russo Sergei Eisenstein e o  mexicano  Luís Alberti vive o  guia com quem ele teve um romance fugaz e, com ele descobriu sua homossexualidade.
 
O filme resgata os 10 dias que Eisenstein passou em Guanajuato em 1931. O diretor russo tinha a intenção de realizar Que Viva México!, um projeto cinematográfico sobre a cultura do País, que ficou inacabado por causa de diversos problemas, como a falta de dinheiro e o pedido da União Soviética de sua volta imediata.
 
Mas as experiências sensuais que viveu lá foram cruciais na sua vida e em seus filmes. De um cineasta formal com obras sobre ideias conceituais, a viagem ao México o humaniza como cineasta, tornando seus trabalhos mais condizentes com a condição humana.  
 
O elenco conta ainda com o sul africano Stelio Savante como Hunter S. Kimbrough e Lisa Owen como Mary Craig Sinclair.
 
O filme recebeu aqui reações opostas e as avaliações desfavoráveis decorrem da forma como Greenaway retratou Eisenstein, exagerando muitas vezes na questão homossexual e colocando em segundo plano sua genial contribuição para o cinema.
Leis os principais trechos da entrevista após a projeção – da qual participou o Mccinema  –  quando o cineasta  falou sobre a origem do filme e expôs seu pensamento sobre o cinema no mundo atual.
 
Sobre o cerne do filme.
 
“A história descreve como foi  a realidade quando Eisenstein esteve em Guanajuato para filmar “Que Viva México”, como tudo se passou e porque ele  não terminou o filme.  Através de seus grandes amigos Frida Kahlo e Diego Rivera, ele conhece Palomino, que se converte em seu guia e o ajuda a conseguir locações e lugares onde se hospedar”.
 
Sobre  a inspiração para realizar um filme sobre Eisenstein.
 
“Os motivos decorrem da minha profunda e longa admiração por Eisenstein. De certa forma, é a oportunidade de lhe prestar uma espécie de homenagem. Numa época em que o cinema está “morrendo”, é pertinente celebrar um dos seus maiores diretores e sua contribuição para a sétima arte”.
 
Sobre a descrença na continuidade do cinema.  
 
“Os problemas que Eisenstein teve na época para rodar “Que Viva México!” voltam sempre a aparecer.  É uma indústria que se repete com as mesmas dificuldades:   financiamento, problemas de logística, entraves culturais, barreiras linguísticas e outros. O cinema tem também uma dependência em relação à expressão escrita”.
 
Sobre as mudanças  em Eisenstein após ter ido a Guanajuato.
 
“Acho que as vivências no México  humanizaram Eisenstein e significaram um impulso criativo para o resto de sua obra.  Minha tese é que seus três filmes,  A Greve (1924), O  Encouraçado Potemkin (1925) e Outubro (1928), são muito diferentes de outros como Alexander Nevsky (1938) e  Ivan, o Terrível (1944) e atribuo isso ao seu período em Guanajuato”.
 
 
Sobre sua experiência no México.
 
“Há muito tempo sou  fascinado pela cultura Asteca e pela afabilidade encantadora dos mexicanos. Costumo passar horas no Museu Britânico, que tem uma grande coleção de obras latino-americanas.  Eu já estive no México umas vinte vezes, mas agora foi diferente, estava trabalhando lá e encontrei gente incrivelmente amigável e aberta.  Foi também uma oportunidade para conhecer melhor a história do México. Me dei conta que  a revolução russa foi em 1917,  a deles foi  sete anos antes”. 

     
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