ROMÊNIA VENCE O INDIELISBOA
     
 

PUBLICADA EM 04.05.15

Carlos Augusto Brandão

Aferim!, do cineasta romeno Radu Jude venceu a edição 2015 do IndieLisboa.

É a segunda premiação importante para o filme.  Ele foi um  dos concorrentes ao Urso de Ouro na 65ª edição do Festival de Berlim e deu a Jude o Urso de Prata de melhor diretor, dividido com Body, da polonesa Malgorzata Szumowska.   
 
Jude ainda é pouco conhecido fora do seu País e dos circuitos dos festivais. Mas seus filmes têm sido sempre bem recebidos pelo público e crítica como aconteceu com Everybody in our Family, em que os espectadores se sentem tão presos quanto o personagem;  A Film for Friends, drama de humor negro, que brinca com a morte; ou The Happiest Girl in the World,  um filme mordaz sobre o tédio adolescente.
 
Vale lembrar também que  o cinema romeno está cada vez mais conquistando admiradores pelo seu sucesso crescente devido ao talento de nomes como Cristian Mungiu (4 meses, 3 semanas e 2 dias),  Cristi Puium (A morte do senhor Lazarescu) e Corneliu Porumboiu (Polícia, Adjetivo), apenas para citar alguns.  
 
O novo filme de Jude aborda a escravidão dos ciganos no século 19. Ambientada naquela época, a trama segue o policial  Costandin, que é contratado por um lorde para encontrar Carfin, um escravo cigano que tinha fugido de sua propriedade após ter tido um caso com sua esposa, Sultana. Ele sai para encontrar o fugitivo, iniciando uma viagem cheia de aventuras. Aferim é uma palavra turca que significa bravo.
 
Na coletiva em Berlim, o diretor explicou como um filme sobre a escravidão pode ser importante para a Romênia atual.
 
“Penso que tudo o que somos hoje em dia é um resultado, pelo menos em parte, daquilo que sucedeu no passado. Um país não pode ser saudável se a memória coletiva esquece eventos que foram desagradáveis. Somos suficientemente maduros para, como sociedade, nos confrontarmos com o nosso próprio passado, aceitá-lo e aprender algo com ele. Aferim! é uma pequena contribuição para este olhar crítico do passado”, disse o diretor acrescentando  que o fato de ser um filme de época não altera o modo como pensa na história ou como quer contá-la.
 
“Nos últimos anos, talvez devido à leitura de muitos filósofos,  minha crença sobre certas noções de verdade, realismo, verdade artística, realidade foram profundamente abaladas. Já não acredito que exista apenas uma verdade no sentido absoluto. Tenho procurado seguir esse princípio, independentemente de ser uma história de época ou não”, ressaltou.
 
Jude disse que, para ele,  pouco importa se um filme é bom ou mau, emocionante ou até tedioso,  seu objetivo é sempre estimular o pensamento dos espectadores.
 
“Poderia dizer que, aquilo que é para mim da máxima importância pode não ser para o espectador quando vê um filme meu, mas sim o que acontece na sua mente depois de sair do cinema. Penso que Aferim! é apenas um instrumento para despertar o desejo dos espectadores de pensar, investigar e refletir sobre os temas nele contidos”.  
 
Destacando que gosta muito de teatro, onde as locações são sempre reduzidas, Jude falou sobre seu conhecido talento na perfeita utilização dos espaços, sejam interiores ou exteriores.
 
“Acho que o espaço é extremamente importante para a dramaturgia de um filme. Eu sempre tentei procurar espaços que pudessem comunicar mais, espaços que são importantes do ponto de vista narrativo, mas que podem comunicar algo também a um nível simbólico”.
 
Ao final, Jude emitiu sua opinião sobre o sucesso dos filmes da nouvelle vague romena.  
 
 “Nós não escrevemos nenhum manifesto ou teoria como aconteceu com a nouvelle vague francesa, mas nós crescemos num mundo onde o cinema era uma ferramenta importante de propaganda, e talvez por essa razão, tentamos refletir a realidade da maneira mais honesta possível. No momento há uma coesão de estilo dos cineastas da minha geração, mas acredito que no futuro cada um de nós vai explorar seu próprio mundo e o cinema romeno se tornará mais e mais diversificado”.
 

     
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