FANTASMAS E TRANSCENDÊNCIA
     
 

PUBLICADA EM 15.09.15

Myrna Silveira Brandão

O diretor Kiyoshi Kurosawa é uma figura frequente no Festival de Nova York, onde entre outros, já apresentou Tokyo Sonata (2008), comédia dramática sobre o desemprego e Real (2013), um filme difícil de classificar, misto de ficção científica e terror.

Terror, por sinal, tem sido tema recorrente em seu cinema. Desde que realizou Cure em 1997, Kurosawa foi um dos responsáveis por aumentar o prestígio dos filmes de horror e mistério no cinema japonês.
 
Ele agora está de volta com Rumo à Outra Margem, que venceu o prêmio da Mostra  Un Certain Regard em Cannes.
 
Mostrado numa concorrida prévia para a imprensa da 53ª edição do NYFF, o filme  é mais uma incursão do diretor em temas surpreendentes, desta vez abordando a questão do espiritismo.
 
Baseado no livro de Kazumi Yumoto e roteirizado por Kurosawa e por Takashi Ujita, Rumo à Outra Margem é uma espécie de viagem transcendental bem no estilo do seu diretor.
 
O filme começa mostrando Mizuki, uma dona de casa, que está tranquilamente preparando seu jantar, quando seu marido, depois de um longo tempo desaparecido, retorna.   A reação da mulher reflete uma clara estupefação, já que ele morreu afogado no mar. Mas apesar da insólita cena, a mulher parece muito mais inquieta, não porque ele retornou, mas pela demora com que isso aconteceu.
 
Para entendimento total da mensagem, os espectadores precisam ter a mente aberta para mergulhar no filme e ficar atentos à narração com diálogos muito semelhantes, mas com novos e diferentes sentidos em cada situação.
 
Leia os principais trechos da entrevista de Kurosawa sobre a adaptação do livro para as telas e o cerne do filme.
 
Seu filme não se assemelha a histórias sobre fantasmas.  Qual foi a intenção? 
 
A ideia foi mesmo fugir um pouco do gênero. Fantasmas são tradicionais em grandes filmes japoneses de época. Eu queria abordar o assunto numa produção contemporânea, mas sem provocar muitos sustos.  
 
O roteiro é fiel ao livro de Yumoto?
 
Procurei ser bastante fiel, mas houve necessidade de algumas mudanças na transposição para as telas. Mas acho que adaptar não significa necessariamente se prender à letra de um livro.  É importante também desenvolver e reinterpretar sua gramática.
 
Poderia dar um exemplo disso?
 
A cena em que a garota morta volta para perdoar a irmã não existe no livro.
É uma criação minha, da qual eu precisava para aprofundar os personagens e agir no inconsciente do público. 
 
Como definiria o cerne do filme?
 
O importante é usar os mortos para falar dos vivos e dissecar sentimentos.
 

     
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