MADDIN FALA NO NYFF SOBRE SEU FILME SURREAL
     
 

PUBLICADA EM 26.09.15

Carlos Augusto Brandão

O público de "The Forbidden Room", de Guy Maddin & Evan Johnson se divide em dois grupos: aqueles que deixam a sala 10 minutos após o início do filme e os que ficam até o final e mergulham na excêntrica proposta do diretor.

Foi o que ocorreu ontem  na prévia para a imprensa desta 53ª edição do Festival de Nova York.
 
E mergulhar tem a ver com o mote do filme, que começa com quatro homens dentro  um submarino abaixo da superfície, quase sem oxigênio, num cenário  de evidente suspense claustrofóbico.
 
Maddin é considerado o  mestre atual no cinema do fetichismo fílmico.  Seu novo filme, em parceria com Johnson,  embarca numa aventura fantasmagórica de histórias dentro de histórias, dentro de sonhos, dentro de flashbacks, tudo isso, numa delirante viagem global.
 
Uma das características do seu trabalho é não levar-se demasiado a sério e isso também vale para o próprio argumento que tem nas mãos.  Deste modo, tanto na imagem, como no som, há espaço para tudo: o humor absurdo, o terror e o drama se dão as mãos numa mesma cena.
 
Em sua obsessão na mudança do cinema mudo para o sonoro, do P&B para a cor, Maddin   desafia todas as regras do relato, usando o digital para colocar sua obra em uma época em que o cinema só se utilizava do celuloide.  O filme alterna intertítulos com diálogos falados e, em uma mesma cena, um personagem pode estar falando em sonoro e o outro responde através de intertítulos.
 
“The Forbidden Room”  toma como ponto de partida a releitura de um punhado de filmes perdidos, muitas vezes somente com base em seus títulos e um breve resumo da trama.
 
Sem avisos ou transições, o filme de Maddin passeia na tela com sonhos, visões e loucuras que saem umas das outras, imagens dentro de imagens, histórias que se propagam para criar uma paranoia interminável. 
 
Numa sequência, a imagem queima, se desintegra em segundos, fazendo com que um par de fotogramas adquira uma nova tonalidade e mude de trama.
 
Os realizadores acreditam num universo inacabado em constante movimento e mudança, que se reproduz e transita por territórios desconhecidos, embora fascinantes.
 
Não há qualquer lógica, mas isso não importa. Os que ficaram até o final,  conversaram com um simpático Maddin na coletiva após a projeção, da qual participou a Gazeta do Povo.
 
O diretor iniciou a entrevista explicando porque utilizou tantos filmes do passado que foram perdidos.
 
“O cinema perdeu muitos filmes, a maioria por estarem guardados inadequadamente. Eu decidi adaptar fragmentos de filmes talvez assim eu pudesse atingir pessoas que gostariam de rever essas obras”, explicou Maddin, que é um admirador dos filmes mudos.
 
“A vantagem desses filmes  sem som é que eles podiam ser exibidos  em qualquer lugar.  Bastava colocar o idioma do país nos letreiros”, ressaltou.
 
Maddin contou que a saturação da cor de alguns deles foi um problema na hora de fazer a adaptação para o seu filme.
 
“ A questão da  cor antigamente era um problema, inclusive com a censura que proibia vermelho muito forte imitando sangue.   Martin Scorsese, por exemplo, teve que reduzir a saturação do vermelho em Taxi Driver”, lembrou Maddin, respondendo a uma pergunta sobre o que é o filme.
 
“É sobre muitas coisas: amnésia, memória, esquecimento... “, divagou o diretor  numa forma  enigmática e bem de acordo com o seu cinema. 
 

     
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