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PUBLICADA EM 30.09.15
Myrna Silveira Brandão
Um conhecido ditado sugere que, se o cavalo ganhar uma vez foi sorte, se ganhar a segunda vez foi coincidência, se ganhar a terceira aposte nele!
Isso vem a propósito do recente cinema romeno. Filmes como “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”, de Cristian Mungiu; “A Morte do Senhor Lazarescu, de Cristi Puium”; “Califórnia Dreaming”, de Cristian Nemescu; e “Polícia Adjetivo”, de Corneliu Porumboiu não são mais coincidência. Ao contrário, deixam a certeza da qualidade desse novo cinema.
Certamente por causa disso, “The Treasure”, de Porumboiu era aguardado com expectativa e teve sessão lotadíssima ontem na prévia para a imprensa da 53ª edição do Festival de Nova York.
O diretor está de volta ao NYFF, onde apresentou em 2013, também com uma ótima receptividade, o seu “Quando a Noite cai em Bucarest ou Metabolismo”.
“The Treasure” narra a história de Costi (Cuzin Toma), que leva uma vida rotineira, sem grandes acontecimentos, com sua mulher e filho.
Embora com dificuldades para conviver com a crise romena e conseguir pagar as contas no final do mês, ele vai conseguindo manter a família.
Até que uma noite, Adrian (Adrian Purcarescu) – seu vizinho, que ele pouco conhece – bate à sua porta com uma proposta de negócio: ele está precisando de dinheiro para contratar alguém que o ajude a encontrar um suposto tesouro enterrado no quintal de seus avós. Se Costi emprestar a quantia, eles dividirão o que for achado.
A partir daí, os espectadores vão descobrir se se trata de um golpe ou uma proposta honesta. Em tom de fábula, a suposição de riqueza imediata gradualmente vai se transformando numa história de múltiplas camadas envolvendo burocracia, papelada e culminando num viés totalmente surpreendente.
Mudando completamente o tom sério do começo, Porumboiu não perde a chance de aproveitar em sua parábola, de maneira hilariante, uma lei existente na Romênia, segundo a qual qualquer tesouro encontrado, tem que ser imediatamente declarado a policia para que esta decida se seu conteúdo é parte do patrimônio nacional e, portanto, propriedade imediata do estado.
Assim, um filme que começa com o tema recorrente dos problemas da crise econômica e do desemprego, se converte de repente em um cômico relato de aventuras.
Porumboiu – que se formou em administração antes de estudar direção de cinema – confirma que, como nos filmes anteriores, seu cinema tem sempre ligação com o que acontece na sociedade contemporânea. Leia os principais trechos de suas declarações.
Sobre The Treasure ser apenas ficção ou procurar espelhar o mundo real
“O viés pode ser ficcional, mas a inspiração para meus filmes vem da ambiência ao meu redor e principalmente da observação dessa realidade”,
Sobre o viés realista ser uma tendência no cinema romeno
“Os cineastas de minha geração cresceram num regime político onde o cinema era uma ferramenta importante de propaganda e, talvez por isso, os filmes procurem refletir a sociedade de maneira mais realista. Sinto que eles compartilham o mesmo gosto pelo cinema, o que pode explicar o viés atual dos filmes da Romênia”.
Sobre a nova onda do cinema romeno
“Existe de fato um estilo predominante nos cineastas da minha geração, mas não é um movimento como a nouvelle vague francesa. Acho que ultimamente cada um de nós está explorando seu próprio universo, tornando o cinema romeno mais diversificado e, consequentemente com uma abrangência maior para todo tipo de público”.
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