ÁLBUM DE FAMÍLIA
     
 

PUBLICADA EM 02.10.15

Myrna Silveira Brandão

Trois Souvenirs de ma Jeunesse, de Arnaud Desplechin, foi destaque ontem das sessões de imprensa do Festival de Nova York, mais um título da significativa representação francesa nesta 53ª edição do evento.

O diretor retorna ao tema da família, às lembranças,  desencontros e aos traumas de infância que teimam em continuar ressoando ao longo de sua vida.
 
Para isso, recorre a uma narração na primeira pessoa contada por Paul Dedalus, o  próprio protagonista da história e alter ego de Desplechin.
 
O relato se divide em três capítulos: o primeiro, Infância, nos situa no contexto histórico e nos apresenta o personagem, um menino de nove anos, com uma mãe deprimida e um pai que se vale da violência para conviver com suas frustrações existenciais.
 
O segundo, Rússia – quando Paul faz uma viagem de estudos a Minsk – traz uma curiosa travessura de sua juventude, cujo espírito aventureiro nunca o abandonará.  Na verdade, é o episódio que inicia o filme, quando Paul, já adulto está regressando à França, depois de muitos anos fora. Ao chegar ao aeroporto é detido por problemas com o passaporte e começaremos a conhecer seu passado.
 
O terceiro, Esther, narra a história de Paul com a mulher (que dá título ao capítulo), o grande amor de sua vida, numa relação cheia de altos e baixos. Isso é mostrado em vários momentos do filme, inclusive numa bela sequência quando, metaforicamente, é evocado o poema Among School Children, de Yeats, para expressar  o sentimento de  duas pessoas que se amam de modo muito particular e são forçadas a se separar.
 
As referências históricas estão presentes – o fim do muro de Berlim, a dissolução da URSS – mas o diretor está mais interessado em focar na mudança de comportamento dos personagens, o começo da idade adulta, o descobrimento do amor e as ansiedades existenciais. 
 
Levando a emoção dos personagens ao seu limite extremo, Desplechin traz lembranças que evocam a morte, o amor, o ódio, o rancor e a difícil convivência entre amantes, marido e mulher, pais e filhos e mesmo entre pessoas que não têm qualquer laço familiar. 
 
O filme não é tão impactante como Um Conto de Natal – mostrado aqui na edição 2009 do festival ou  Reis e Rainhas, considerado o melhor trabalho de Desplechin –  mas não deixa de trazer sua assinatura nessa profunda análise dos relacionamentos interpessoais, expressos nos conflitos, nos sofrimentos e na lógica encontrada pelos personagens para os seus comportamentos.
 

     
  » Imprimir  
 
   
  Seja o primeiro a comentar esta matéria (0) Comentário  
   
   
  Voltar