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PUBLICADA EM 07.10.15
Myrna Silveira Brandão
Até o último Festival de Cannes, muito pouco se sabia sobre Laszlo Nemes: diretor húngaro, com dois curtas-metragens e ajudante de câmera do cineasta Béla Tarr pareciam ser suas principais referências.
Mas desde o evento francês, ele nunca mais será um desconhecido no mundo cinematográfico e a partir de então será sempre o diretor de O Filho de Saul, e o que pode vir depois desse grande filme.
O Filho de Saul ganhou o Grande Prêmio do Júri e o da Crítica Internacional (FIPRESCI) na Croisette, foi selecionado para a 53ª edição do Festival de Nova York e vem gerando grande expectativa onde é mostrado, não somente pelos prêmios recebidos, mas principalmente pela repercussão que sua inovadora abordagem sobre o Holocausto vem despertando.
Passado durante 36 horas em 1944, o filme segue Saul Ausländer (Geza Röhrig), um judeu húngaro que é membro do Sonderkommando, prisioneiro com tratamento “especial”, que cuida das tarefas cotidianas dos campos de concentração: levar outros prisioneiros para as câmaras de gás, limpar o chão e carregar os corpos depois.
Ao realizar essa tarefa, Saul descobre que uma das vítimas na câmara de gás é seu filho. A partir daí, fica obcecado em dar um enterro digno ao menino, mesmo arriscando sua própria vida.
Com a câmera centrada praticamente o tempo todo no rosto de seu protagonista, deixando fora de foco tudo o que ocorre ao redor, o diretor o filma em dezenas de planos sem cortes, que chocam em sucessão, não só pelas imagens, mas também pelo som de gritos e tiros. A reconstituição mais parece um filme de terror, pela forma sufocante como narra a execução de judeus nas câmaras de gás do campo de concentração de Auschwitz.
Nemes escolheu o viés de abordar os Sonderkommandos no seu filme porque, como explica, ficava sempre frustrado com a forma usual dos chamados filmes de Holocausto que via.
“ Eu queria trazer a história para o nível de uma pessoa e retratá-lo de uma forma muito estreita. A ideia era seguir um personagem principal e mostrá-lo profundamente a partir do interior. Eu não queria mostrá-lo apenas de uma forma exterior, não queria fazer um filme sobre testemunhas sobreviventes, mas sim sobre a realidade e a morte”, diz o diretor comparando a abordagem de outros filmes com o seu.
“As abordagens que esses filmes utilizam são bastante previsíveis, são vistas de fora, tentam criar um mundo extremamente turvo a qualquer custo. Eu queria ficar longe de tudo isso e trazer os fatos de volta para o presente. As testemunhas dos Sanderkommando são concretas, presentes, materiais: descrevem exatamente como tudo acontecia”, destaca.
O diretor explica porque não utilizou o digital e filmou O Filho de Saul em película, em 35mm e com o recurso da projeção em proporção 1:33 (similar a um quadrado no centro da telona).
“O desafio era mexer com as emoções dos espectadores”, ressalta.
Nemes diz que compreende algumas análises que foram feitas sobre o estilo envolvente e o ritmo que deu a seu filme.
“Alguns até sugeriram um potencial de controvérsia, mas eu não vejo dessa forma. Acho que Saul Fia é um filme respeitoso. Estou feliz que as pessoas falem sobre o assunto como um filme, mas também sobre tudo o que aconteceu neste continente e que ainda deixa marcas profundas até hoje na vida de muitas pessoas”, afirma o diretor, dizendo-se um pouco atordoado ainda com a repercussão.
“Saul Fia é um filme muito pessoal e é até engraçado ser jogado nesse torvelinho de um dia para o outro. Eu estava ansioso por isso, mas também um pouco apavorado”, revela destacando alguns diretores que o inspiram.
“Meu cinema preferido é aquele em que o diretor tem um forte ponto de vista e também que esse ponto de vista não seja muito longe das possibilidades de um ser humano. Eu gosto quando os filmes são pensados antes das filmagens e não apenas montados na sala de edição. Entre eles estão Stanley Kubrick, Michelangelo Antonioni e mais recentemente Paul Thomas Anderson”, diz, antecipando que voltará a trabalhar em um roteiro que escreveu – Sunset – que é passado em 1910 em Budapeste.
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