CRISE POLÍTICA EM TOM DE FÁBULA
     
 

PUBLICADA EM 24.01.16

Carlos Augusto Brandão

Apichatpong Weerasethakul é conhecido por filmes fora do convencional como “Mal dos Trópicos” (2004), “Síndromes e um Século” (2006) e o impactante “Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas” (2010).

Ele agora está de volta com “Cemetery of Splendour”, selecionado para a Mostra Spotlight da 32ª edição do Festival de Sundance.  O filme tem de fato tudo a ver com o espírito da Mostra, que privilegia filmes criativos e inovadores.
 
O novo trabalho do cineasta tailandês se passa dentro de um hospital lotado de soldados em coma.
 
Presos a máquinas de sonho e cuidados por uma bondosa voluntária (Jenjira Pongpas Widner) e uma jovem médium (Jarinpattra Rueangram), é dito àqueles homens que, no seu sono, eles estão numa guerra lutando em favor de reis inimigos mortos há muito tempo.
 
Através dessas misteriosas letargias, o diretor procura criar uma rica metáfora central: o sono como um refúgio seguro, como um mecanismo escapista e como uma benção.
 
Além dos efeitos oníricos, o filme mescla fenômenos sobrenaturais com fantasmas e traumas nacionais históricos da Tailândia. 
 
No Festival de Nova York, onde o filme foi um dos destaques, Weerasethakul contou que, para filmar essa fábula espiritual, voltou à sua cidade natal Khon Kaen, com sua selva, montanhas e crenças animistas.
 
“Foi uma experiência emocional, mas muito triste”, revelou o diretor, lamentando que a cidade tenha mudado tanto.
 
“Na minha mente, só existia minha casa, um cinema e o hospital onde minha mãe trabalhava como médica. Fiquei muito arrependido de não ter ido lá antes”, afirmou Weerasethakul que, nas entrelinhas, aborda o golpe militar que a Tailândia sofreu no ano passado. 
 
 “Cemetery of Splendour é um filme político porque fala da situação atual confusa e absurda do meu país. A única maneira de escapar é dormindo e sonhando”, explica.
 
O cineasta reconhece que seu cinema é diferente e, muitas vezes estranho, mas ressalva que cada espectador também dá uma resposta única para os seus filmes.
 
“Cada um deles tem uma recepção diferenciada, mas noto que as pessoas assistem e compartilham. Acho que as coisas devem seguir assim, não devo forçá-las a entender ou buscar interpretações”, enfatiza o diretor cuja obra segue a mesma linha iniciada com seu intrigante primeiro longa-metragem “Eternamente Sua”, de 2002, que o projetou internacionalmente.
 

     
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