O VELHO E O MAR
     
 

08.10.13

Carlos Augusto Brandão

Chandor mostra seu inusitado filme no NYFF

Nova York

O título acima não se refere ao famoso romance de Ernest Hemingway.   Aqui, o mar é o Oceano Índico e o velho é um personagem sem nome, interpretado pelo veterano ator e diretor Robert Redford.

Esse é o tema de All is Lost, novo filme de J.C. Chandor, grande destaque da 51ª edição do Festival de Nova York.

Ter Redford no papel era o que Chandor mais queria.  Mas ele mesmo não acreditava que conseguisse.  Após atuar e dirigir tantos filmes – alguns já clássicos – e ser  conhecido como o guru mor dos independentes por ter criado o Instituto e o Festival de Sundance, dedicado ao cinema indie, Redford já é quase uma lenda no cinema.

Chandor, no entanto, também tem suas credenciais.  All is Lost é seu segundo filme, mas sua estreia com Margin Call – O Dia antes do Fim, foi um sucesso.  Abriu o Festival de Berlim e foi indicado ao Oscar.

Assim, como conta Chandor, foi com muita confiança que ele enviou o roteiro para Redford, o convidando para estrelar All is Lost.

“Claro que, após o envio do roteiro, fiquei controlando a ansiedade, mas me surpreendi quando ele me chamou para uma reunião. Então, ele disse que a coisa era um pouco louca, meio fora de esquadro, mas que iria fazer”, conta o diretor detalhando a bizarra razão que o levou a se convencer que queria Redford no seu filme. 

“Eu tinha acabado de escrever o roteiro e estava no Laboratório do Sundance com cerca de 200 novos cineastas, e ele veio dar o discurso de boas vindas a todos. Eu estava no fundo da sala e o alto-falante atrás de mim foi desconectado. Eu mal podia ouvi-lo quando percebi que se eu tirasse a sua voz, ele teria que usar tudo o mais que tem e é muito. Aí, tive certeza que  havia encontrado o ator para o meu personagem.

Redford  é o único ator no filme e quase não diz uma palavra o tempo inteiro. Ele interpreta um homem velejando sozinho,  que um dia vê que seu iate foi perfurado em uma colisão com um contêiner de carga. Ele repara o buraco, mas esse é o primeiro de uma série de infortúnios que vai enfrentar.

Chandor conta como surgiu a ideia de fazer um filme tão diferente, com um só personagem e que passa a maior parte do tempo em silêncio.

“Eu tinha vontade de contar uma história assim desde que tinha 15 anos e levei um bom tempo para concretizar.  O que você vê no filme é tudo o que eu  imaginei  fazer.  Quando eu tenho pessoas ao meu redor, sou um tagarela, mas quando estou sozinho nunca falo, eu não converso comigo mesmo. Esse personagem sou eu. Alguém perguntou se era meu pai, não é. Realmente sou eu”, conta Chandor, que está muito satisfeito com os resultados de All is Lost.  

“Fazer um segundo filme que me deixou orgulhoso e saiu do jeito que eu queria, me faz pensar em continuar fazendo isso um longo tempo em minha vida. Acho que Redford e eu fizemos um bom trabalho”, avalia.

Redford é, de fato, a chave do sucesso do filme, um ator famoso, rosto curtido, mas com uma força muscular que dá ao filme a intensidade convincente que ele precisa. Seu desempenho é surpreendente e emblemático.

Há sequências extraordinárias do barco, da balsa salva-vidas, ondas de tempestade, com Redford dentro, tornando quase inacreditável que tenha conseguido fazer todas essas cenas.

“Ele fez quase tudo, Eu diria que há oito tomadas de um dublê. Ele é um nadador muito bom, é um atleta. Nossa única preocupação foi evitar, de todas as formas, que ele se machucasse.  Com 76 anos, teria sido uma situação trágica, perda total para a companhia de seguros porque o filme desapareceria. Nós tivemos que cuidar muito de sua segurança o tempo todo”, revela  Chandor.

All is Lost  é emocionante e comovente do início ao fim. Como já tinha acontecido em Cannes, onde passou fora de concurso, aqui também no Festival de Nova York  teve uma ótima receptividade, com muitos aplausos para o jovem diretor,  certamente com uma talentosa carreira pela frente. 

     
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