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PUBLICADA EM 14.02.16
Myrna Silveira Brandão
A 66ª edição do Festival de Berlim foi palco ontem da estreia mundial de Lavenir, de Mia Hansen-Love.
A diretora aos 36 anos vem subindo no conceito da crítica com filmes como “O Pai dos Meus Filhos” (2009) e “Adeus, Primeiro Amor “.
O filme, mostrado numa prévia para a imprensa, é um dos concorrentes ao Urso de Ouro na mostra oficial do festival.
Protagonizado por Isabelle Huppert e André Marcon, o ótimo elenco inclui ainda Roman Kolinka e Edith Scob, entre outros.
A história gira em torno de Nathalie (Huppert) e Heinz (Marcon), dois professores de filosofia casados há muitos anos e com dois filhos adultos.
Nathalie dedica seu tempo aos livros que publica, a seus ex-alunos que já se tornaram seus amigos e especialmente à sua possessiva mãe.
Nathalie e Heinz estão intimamente ligados muito mais por hábito e por seus interesses intelectuais comuns do que por amor, que fracassou ao longo dos anos.
Um dia, Heinz diz a Nathalie que se apaixonou por outra mulher e que está se encontrando com ela.
Ao mesmo tempo, Nathalie é confrontada com a morte da mãe e a solidão. O verão está começando e, também para ela, este momento pode ser o início de uma nova vida.
Numa das coletivas mais divertidas até agora, a diretora descontraída e bem humorada falou sobre o filme e como sua história de vida, ajudou a realizá-lo.
“Meus pais são professores de filosofia e a trama é o retrato de uma mulher, um pouco inspirado na vida de minha mãe”, revelou a diretora, inicialmente discordando dos comentários que o filme seria muito sombrio.
“Não vejo assim, até porque ele foi escrito quase como uma comédia, mas talvez você tenha razão, o tema é um pouco sombrio porque é sobre a solidão. Sobre o que é ser uma mulher com determinada idade, quando o mundo desmorona porque o marido a deixou, os filhos já foram embora, sua mãe morre... enfim, o que é ser mulher nessa faixa etária e com todas essas questões”, explicou com uma frase conclusiva.
“De qualquer forma, são filmes sobre pessoas que eu conheço bem. Com isso, não estou afirmando que é preciso conhecer as pessoas ou falar somente coisas que conhecemos bem, mas de repente pode ser uma boa coisa. É como dizia Rohmer (Eric Rohmer) – quando o criticavam por fazer filmes sobre as mesmas coisas – “Eu faço filmes sobre as coisas que eu sei”, lembrou Mia.
Sobre Huppert para protagonista, disse que começou a escrever o roteiro quando estava filmando Eden.
“Nem tinha certeza se conseguiria chegar ao final do projeto. Então comecei a pensar em Isabelle para o papel e ela se encaixou tão bem, acho que tudo se tornou real graças a ela”, reconheceu com muitos elogios para a atriz.
Mia foi assistente de Olivier Assayas (61) com quem é casada e iniciou sua carreira como atriz no ótimo filme do diretor francês “Late August, Early September”.
Assim a pergunta para ela foi quase inevitável: “Você e o diretor discutem seus filmes um com o outro?
“Eu o consulto o tempo todo e continuo pedindo-lhe conselhos, mas não acho que ele precise muito dos meus ”, disse rindo da própria afirmação e da indagação de um jornalista que se seguiu.
“Deve ser algo muito especial para você como cineasta, é raro ter alguém por perto que faz o mesmo trabalho, não é?.
“Sim e talvez algum dia eu faça um filme sobre isso, algo assim como “Dois Cineastas”. Claro que será uma coisa mais ou menos autobiográfica”, divertiu-se.
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