VAMPIROS SOFISTICADOS
     
 

10.10.13

Myrna Silveira Brandão

Jarmusch mostra seu novo filme no NYFF, também programado para o Festival do Rio

Nova York

Histórias de vampiros costumam ser narradas nas telas de várias formas, tamanhos e estilos, mas sempre com o viés sombrio e assustador.  Em seu novo filme, o diretor americano Jim Jarmusch procurou abordar o tema, de maneira inovadora, fugindo do clichê macabro e aterrorizante.

Only Lover Left Alive foi mostrado na 51ª edição do  Festival de Nova York, onde o cultuado cineasta tem fãs cativos desde seus sucessos anteriores como Estranhos no Paraíso, Daunbailó e Flores Partidas.

Tilda Swinton e Tom Hiddleston são os vampiros da vez interpretando respectivamente Eve e Adam, um casal vampiresco, que vive junto  através de séculos.

Os dois parecem tão apaixonados como se fossem recém-casados, embora seu caso de amor seja um dos mais longos do mundo.  Uma foto documenta o terceiro casamento em 1868.

Eles são sofisticados, gostam de música e literatura – seu melhor amigo é o dramaturgo e poeta Christopher Marlowe (1564-1593) – conversam  sobre velhos conhecidos como Lord Byron, admiram  galeria de fotos de heróis artísticos como Buster Keaton e Mark Twain e, nas horas vagas, “bebem” sangue purificado, ou seja vindo de fonte boa.  

Há que tomar cuidado, já que com o passar dos séculos, o sangue se transformou numa coisa perigosamente contaminada. Já deu para notar que Jarmusch mantém o seu humor refinado, numa linguagem minimalista e no estilo muito pessoal do diretor.

Enquanto Adam vive recluso numa velha casa de uma parte abandonada de Detroit, tocando  clássicos em vinil e colecionando guitarras,  Eve anda pelas  ruas de Tanger à procura de Marlowe.  Quando fazem um tour noturno no velho jaguar de Adam, encontram uma Detroit dizimada, metáfora para mostrar  como os seres humanos transformaram a sociedade.

Jarmusch diz que decidiu colocar dois atores britânicos como protagonistas porque a percepção dos ingleses sobre vampiros é excepcional, diferente das do resto do mundo.

“Até onde consigo me lembrar, as historias vampirescas na literatura vem sempre da Inglaterra.  Não sei bem explicar, mas há alguma coisa muito britânica sobre eles. Então, eu quis focar esse aspecto da questão”, afirma o cineasta explicando porque preferiu locar o filme em Tanger e Detroit.

“São dois lugares que me atraem muito por razões pessoais.  No passado, Detroit foi uma cidade misteriosa e mágica, hoje é um local com algo de trágico e depressivo.  Mas ainda tem uma cena musical inspiradora, uma coisa que é muito importante na história.  Nada foi escolhido por acaso, o  filme tem um visual musical”, lembra. 

Fazer este filme era um projeto bastante antigo do cultuado diretor.

“Na verdade, venho perseguindo a ideia  de dirigir uma historia sobre vampiros, pelo menos há sete anos. Havia muita dificuldade para obter financiamento, mas Tilda com quem eu havia falado, desde o inicio, nunca desistiu, mesmo quando tudo parecia ter ficado complicado. A concretização deste projeto deve muito a ela”, reconhece. 

Numa definição para o filme, o diretor diz que é uma história sobre a  exploração do amor no contexto da imortalidade.

“Adam é um personagem que incorpora melancolia e romantismo.  Eve é alegre, mais forte e é quem direciona o relacionamento.  É uma bela historia de duas pessoas que se amam e se aceitam uma a outra”, completa Jarmusch reconhecendo que muitos diretores influenciam seu cinema.

“Mas entre eles,  destaco o trabalho de Jean Eustache. La Mamain et la Putain (1973) é um dos meus filmes preferidos. Na mesa onde escrevo meus roteiros, tenho a foto de Jean, ele é um exemplo de pessoa na qual gosto de acreditar que estou me inspirando”, revela. 

     
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