A ARTE COMO PANO DE FUNDO
     
 

PUBLICADA EM 25.09.16

Myrna Silveira Brandão

O cineasta Eugène Green encantou a plateia do Festival de Nova York em 2014 com “La Sapienza”.

As sequências narrativas do filme mostram o contraste do planejamento urbano com a liberdade da natureza e o design estético orientado para um viés humanístico. 
 
O diretor americano está de volta ao festival com “Le Fils de Joseph”, no qual a arte é novamente um personagem. A pintura e a arquitetura são uma clara fonte de toda a estética do filme. E mais: Green  adapta algumas passagens da Bíblia ao seu estilo satírico e constrói uma história inteligente, divertida e cativante.
 
O filme é a história de Vincent de 15 anos que vive com a mãe, Maria e sempre ouviu dela que ele não tem pai.  Mas ele nunca acreditou a e um dia decide iniciar uma investigação por sua conta.
 
Descobre então que seu pai é  Oscar Pormenor e parte em sua busca, mas infelizmente constata que se trata de uma repugnante figura, egoísta e prepotente.  Revoltado Vincent toma inspiração na história de Abraão e Isaac e decide inverter os papéis.
 
O filme toma outro rumo quando ele esbarra com Joseph, o irmão de Oscar.  Os dois iniciam uma amizade e Vincent  apresenta o novo amigo à sua mãe.
 
A música e a literatura também estão presentes na medida certa.  Um dos grandes triunfos do diretor é conseguir transmitir à sua audiência o sublime que ele encontra em objetos artísticos, algo que poucos realizadores conseguem fazer.
 
Os atores não falam seus diálogos e sim declamam como se fossem parte de uma estilizada e formalizada construção do teatro barroco. O filme é um veículo da apresentação de uma história humana estranhamente comovente. O resultado é uma obra de simbiose cômica que tem como seu ponto alto a simplicidade.
 
Os atores interpretam seus papéis tranquilamente, num tom declamatório, os planos são bem estudados e os cenários encaixam perfeitamente no todo. A cor  confere um visual deslumbrante  ao filme.
 
A religião, por sua vez, serve de base para o roteiro, mas sem excessos, traduzindo-se num humor inteligente, com referências bem construídas, personagens interessantes e momentos verdadeiramente hilariantes.
 
O jovem Victor Ezenfis, que vive Vincent tem um excelente desempenho.  Ao seu lado, Mathieu Amalric reinventa-se como o poderoso Oscar em mais um exemplo da versatilidade do ator.  A atriz portuguesa Maria de Medeiros surge numa pequena e singular interpretação de uma excêntrica crítica literária.
 
Em resumo, “Le Fils de Joseph” – que teve seu lançamento na prestigiada Mostra Fórum do último Festival de Berlim – é um filme intrigante e inovador.
 

     
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