CRISE, REDENÇÃO E CRISE MIGRATÓRIA
     
 

PUBLICADA EM 26.09.16

Carlos Augusto Brandão

La Fille Inconnue, de Jean Pierre e Luc Dardenne, é mais uma investida dos irmãos diretores na temática político-social que eles vêm seguindo desde La Promesse, de 1996, sobre trabalho semiescravo de imigrantes ilegais na Bélgica.

Nesse novo trabalho – selecionado para a 54ª edição do Festival de Nova York – a metáfora sobre a crise migratória na Europa  é inevitável.
 
O filme segue a médica belga Jenny (Adèle Haenel). É tarde da noite, quando uma imigrante africana toca a campainha do posto de saúde em que ela trabalha. O expediente já havia encerrado e ela não atende.
 
Após saber  que a mulher acabou assassinada e, de identidade desconhecida será enterrada como indigente, Jenny sai em busca para descobrir quem era ela.
 
Os irmãos Dardennes dizem que a associação com a crise migratória pode ser apenas uma coincidência, mas que a leitura final deve ser feita pelos espectadores.
 
“Não estamos impondo uma mensagem,  o filme é sobre uma médica e sobre a responsabilidade dela e dos que a cercam”, diz Luc Dardenne,  o mais novo dos irmãos cineastas, ressalvando que também não diz respeito aos recentes atentados terroristas ocorridos na Bélgica e na França.
 
“Muitos fizeram essa comparação, mas ela não procede.  O roteiro já estava escrito muito antes de tudo isso acontecer”, confirma Jean-Pierre.  
 
Jenny é mais uma protagonista feminina na filmografia dos Dardennes, como era  a personagem de Marion Cotillard em Dois Dias, Uma noite (2014) no papel de uma sofredora desempregada belga.
 
“As protagonistas nos nossos filmes são mulheres que se sentem responsáveis, que são livres e que fazem a sociedade ir à frente”,  afirma o diretor com muitos elogios para a atriz que vive a personagem.
 
“Adèle está magnífica no papel”, ressalta explicando que o filme fala também sobre culpa, redenção, integridade, agruras dos menos abastados, enfim sobre coisas que acontecem no cotidiano de nossas vidas. 
 
“Gostamos de contar  histórias simples sobre pessoas simples. Nosso cinema procura mostrar os pequenos dramas que acontecem no lugar onde vivemos e que na verdade são universais”, destaca.
 
Sempre que são questionados como é trabalhar com o próprio irmão, Jean-Pierre responde. 
 
“Não há segredos nem brigas, somos uma pessoa só”, afirma o diretor de 65 anos, apenas três anos mais velho que Luc de 62.
 

     
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