|
PUBLICADA EM 28.09.16
Carlos Augusto Brandão
Paterson, de Jim Jarmusch, é um dos destaques da 54ª edição do Festival de Nova York.
O cineasta americano tem fãs cativos no festival desde sucessos anteriores como “Estranhos no Paraíso”, “Daunbailó” e “Flores Partidas”.
Vindo de Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro, o novo filme de Jarmusch é um poema sobre a banalidade do cotidiano, construído em torno do personagem-título, um motorista de ônibus de Nova Jersey, também chamado Paterson, que escreve poesia nas horas vagas.
A trama é contada em estrofes, uma para cada um dos dias de uma semana inteira da vida do protagonista vivido, num ótimo desempenho por Adam Driver (o Kylo Ren de Star Wars – O Despertar da Força).
Paterson acorda sempre na mesma hora, faz o mesmo caminho até o trabalho e, depois, na direção do ônibus, percorre as mesmas ruas e as mesmas paradas.
Como um adolescente, escreve seus poemas em um caderno de anotações secreto.
Jarmusch mantém o seu humor refinado, numa linguagem minimalista e no seu estilo muito pessoal.
As estrofes ilustram a rotina de Paterson, que se reduz ao trabalho, às conversas com a namorada (Golshifteh Farahani), ao passeio com o cachorro dela e a uma parada no bar preferido do bairro.
As situações parecem se repetir ao longo da semana, mas cada uma delas acrescenta uma informação nova sobre a natureza dos personagens.
Os poemas mostrados em “Paterson” são de Ron Padgett – um dos poetas contemporâneos favoritos de Jarmusch – que não só concordou em escrever os poemas para o filme, mas também deixou o diretor usar alguns dos seus trabalhos pré-existentes na história.
Jarmusch – um dos cultuados gurus do cinema independente – explica a essência de Paterson.
“É uma espécie de antídoto aos grandes filmes de ação, povoados por super-heróis e dramalhões”, diz o cineasta, resumindo a história numa frase.
“O filme é uma celebração dos pequenos detalhes da vida”, afirma reconhecendo a influência que muitos diretores têm no seu cinema.
“Entre eles, destaco o trabalho de Jean Eustache. La Mamain et la Putain (1973) é um dos meus filmes preferidos. Na mesa onde escrevo meus roteiros, tenho a foto de Jean, ele é um exemplo de pessoa na qual gosto de acreditar que estou me inspirando”, revela.
|