A ONDA ROMENA
     
 

PUBLICADA EM 09.10.16

Carlos Augusto Brandão

Sieranevada, de Cristi Puiu, foi o grande destaque ontem na programação da 18ª edição do Festival do Rio.

O diretor é reconhecido por ter colocado  a Romênia no mapa do cinema com A Morte do Senhor Lazarescu, premiado em  Cannes como melhor filme da Mostra Um Certo Olhar.
 
Seu novo filme é um drama construído em torno da reunião de uma família para  o funeral do patriarca.
 
Durante quase três horas de projeção, parentes do morto, entre filhos, netos e a mãe comunista dele, se cruzam pelos cômodos do apartamento da viúva, no centro de Bucareste.
 
Enquanto esperam pelo padre que celebrará a cerimônia, ressentimentos acumulados  e novas discussões – inspiradas pelo ataque terrorista à redação da revista “Charlie Hebdo”, em Paris – acontecem tumultuando a cerimônia de despedida.
 
Qualquer motivo é pretexto para que os parentes se enervem: destrincham mágoas, discordam sobre o legado do comunismo, expressam paranoias com o 11 de setembro, brigam no trânsito e seguem assim.
 
Como aconteceu com o drama de Lazarescu, a história extrapola o tema específico  e todas as tensões da sociedade são postas a nu : cada pessoa aparece com aguda individualidade, inserida num drama que, em última análise, é coletivo.
 
Mas o inovador  está também na forma vibrante como Puiu dirige o seu longa, tão realista e contado em tempo real, que dá a impressão  de estarmos assistindo a um filme documental.
 
Puiu explica a origem do roteiro de Sieranevada.
 
“Meu pai morreu há nove anos.  Na época, eu estava participando do júri da mostra Um Certo Olhar em Cannes e voltei para casa imediatamente. Foi um funeral estranho, havia pessoas que eu não conhecia, vizinhos e amigos de bar do meu pai.  Lembro que discuti com um dos colegas de minha mãe por causa do passado comunista do nosso país”, conta o diretor que, para escrever o roteiro, procurou ouvir algumas pessoas que estavam lá na ocasião. 
 
“O mais engraçado é que, passados os anos, todos tinham uma versão diferente para contar”, diz Puiu, de 39 anos, revelando que sua maior influência é Eric Rohmer e sempre se inspira nele para contar suas histórias.
 
Realmente, há uma semelhança difusa com a obra do diretor francês, como a mudança que vai ocorrendo no personagem, a ambiguidade que domina sua vida, a complexidade do tema que está sendo abordado. Diferentemente de Rohmer, no entanto, Puiu não pretende entrar em discussões filosóficas sobre a religião ou o significado da vida, apenas mostrar, de forma extremamente realista os dramas do cotidiano.
 
O diretor – que está no seu terceiro longa (o primeiro foi Stuff and Dough) –  em 2004 já demonstrava seu talento quando ganhou com Cigarettes and Coffee o Urso de Ouro de melhor curta no Festival de Berlim daquele ano.
 

     
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