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Publicada em 16.01.14

Carlos Augusto Brandão

Sundance abre hoje comemorando 30 anos de cinema independente

 
O drama Whiplash, de Damien Chazelle e o documentário  Dinosaur 13, de Todd Miller, abrem hoje as mostras competitivas americanas da 30ª edição do Sundance (16 a 26.02).
  
Por sua vez, Lilting, de Hong Khaou (UK) e The Green Prince, de Nadav Schirman (Alemanha / Israel) abrirão as competitivas  internacionais de ficção e documentário.
 
Rudderless,  dirigido pelo ator William H. Macy será o título de encerramento.   Macy protagoniza o filme vivendo um pai de luto que encontra uma caixa de música original de seu filho morto e forma uma banda de rock.  
 
O Sundance  acontece em Park City, uma sofisticada estação de esqui nas Montanhas Rochosas, onde durante 11 dias serão mostrados cerca de  200 títulos – entre longas e curtas –  divididos em mostras competitivas, premières, homenagens e retrospectivas.
 
Até o dia 26 uma multidão lotará o vilarejo com cerca de três mil habitantes em sua época normal.  A uma temperatura quase sempre abaixo de zero, cinéfilos e jornalistas disputam espaços nos restaurantes, hotéis e estacionamentos com executivos de estúdios e distribuidores para descobrir aquele novo diretor genial ou o filme de baixo orçamento que da noite para o dia poderá gerar milhões.
 
A cada ano, a pequena cidade parece ter menos condições de receber tanta gente, mas segundo declarações repetidas do seu criador, o ator e diretor Robert Redford, não há possibilidade de transferir o evento para outro local. “É na neve e no frio aproximando as pessoas que está a graça do festival acontecer em Park City”, costuma reiterar.
 
Competição traz nomes famosos no elenco
 
 
Os filmes produzidos sob a égide do cinema independente são realizados fora do sistema de estúdios, mas cultuados atores dão uma ajuda para os novatos diretores.
 
Assim, na competitiva americana de dramas Philip Seymour Hoffman, Richard Jenkins e John Turturro protagonizam God’s Pocket, de John Slattery;  Sam Shepard e Michael C. Hall estrelam o suspense Cold in July, de Jim Mickle; Anne Hathaway interpreta a irmã de um músico em Song One, de Kate Barker-Froyland;  e Kristen Stewart vive uma policial  numa prisão de Guantánamo e uma improvável amizade com um dos detidos em Camp X-Ray, de Peter Sattler
 
Outra atração é a volta dos irmãos David e Nathan Zellner ao Sundance com Kumiko, the Treasure Hunter.  Baseado numa história real, o longa  segue uma solitária  mulher japonesa que está convencida que um tesouro escondido num filme de ficção, é de fato real. Ela abandona sua vida estruturada em Tóquio e vem para a fria Minnesota para procurar a mítica fortuna.
 
Na Competitiva Internacional de drama – que nesta edição não incluiu títulos brasileiros – a América do Sul será representada pelo Chile com  To Kill a man, de Alejandro Fernandez Almendras; e pela Argentina com El Cerrajero, de Natalia Smirnoff, sobre um serralheiro que começa a ter visões estranhas sobre seus clientes.
 
A mostra é bastante diversificada, contemplando filmes da Austrália, Noruega, Etiópia, Sérvia, Índia, Bulgária, Alemanha e Itália. 
 
Mr. Leos Carax (França), de Tessa Louise-Salomé, sobre o enigmático cineasta francês é uma das maiores expectativas na categoria de documentários.  
 
 
Paralelas  
 
A Première – principal mostra fora de concurso do Sundance e criada para expor a diversidade do cinema independente contemporâneo – também traz muitos nomes famosos em sua programação.
 
Entre os 16 selecionados se destacam: A Most Wanted Man (Alemanha), de Anton Corbijn, baseado no best-seller homônimo de John le Carré e que traz no elenco Philip Seymour Hoffman, Rachel McAdams e Willem Dafoe;  Frank (Irlanda), de Lenny Abrahanson, estrelado por Michael Fassbender e Maggie Gyllenhaal;  Love is Strange (EUA)  de Ira Sachs, com  Alfred Molina e Marisa Tomei; e The Trip to Italy (UK), comédia dirigida por  Michael Winterbottom,  com Steve Coogan e Rob Brydon. 
 
Na Première Documentário um dos mais esperados é Life Itself, de Steve James, sobre o renomado crítico de cinema Roger Ebert, que morreu em abril deste ano.
 
 
Uma trajetória de 30 anos
 
Ao longo desse tempo, diretores estreantes, com seus dramas e documentários, têm buscado seu lugar ao sol no meio desta neve toda.
 
O fato é que o Sundance abre portas. Criado em 1981 por  Redford, o Sundance é hoje o mais importante evento do cinema independente americano.  Desde 1989 quando Sexo, Mentiras e Videoteipe levou o prêmio de audiência e projetou seu diretor Steven Soderbergh, os grandes produtores de Hollywood passaram a ver o festival não só como um evento que exibe filmes de grande originalidade, mas também como ponto alto da temporada de caça a diretores talentosos cujos filmes podem render, da noite para o dia, recordes de bilheteria.
 
Isso aconteceu com trabalhos de Quentin Tarantino, Hal Hartley, Roberto Rodriguez, Solondz e dos Irmãos Coen – hoje ícones do cinema independente –  e com filmes como o fenômeno A Bruxa de Blair.  Exibida em 1999,  a produção de US$ 35 mil, graças a uma incrível jogada de marketing pela Internet, é um dos filmes mais rentáveis de todos os tempos.
 
Sem esquecer o nosso Central do Brasil, de Walter Salles, que ao ganhar o prêmio de roteiro em 1996, começou em Sundance sua escalada de sucessos:
 
“O Sundance deu uma grande ajuda para viabilizar Central do Brasil.  Sem dúvida nenhuma, o festival é o principal ponto de irradiação do cinema independente mundial”, reconheceu Salles após a première de Central, que teve sua estreia no Sundance/98.
 
A participação brasileira
 
Na verdade, os brasileiros firmaram no festival alguns alicerces. Antes de Central, passaram pelo Sundance, entre outros, o mesmo Walter Salles com Terra Estrangeira, Lucia Murat com Doces Poderes, Djalma Limongi Batista, com Bocage – o Triunfo do Amor, Beto Brant com Ação entre Amigos e José Araújo, que com o poético Sertão das Memórias, levou o prêmio latino americano em 97.
 
Sem contar participações posteriores de Andrucha Waddington (Casa de Areia), José Padilha (Tropa de Elite e Segredos da Tribo) e Karin Aynous (Madame Satã), entre outros.
 

     
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