POLÔNIA SAI BEM NA CORRIDA PARA O URSO DE OURO
     
 

PUBLICADA EM 13.02.17

Carlos Augusto Brandão

Aplausos marcaram ontem a sessão para a imprensa de “Spoor”, filme da diretora polonesa Agnieszka Holland, selecionado para a mostra oficial desta 67ª edição do Festival de Berlim.

Poucas cineastas tem uma carreira tão diversificada quanto Holland, uma artista verdadeiramente global que já trabalhou na Alemanha, França, República Tcheca, Inglaterra, Estados Unidos e na sua Polônia nativa. E também eclética com trabalhos que envolvem muitos estilos, realidades e culturas diferentes. 
 
A trama de Spoor – que a traz de volta às locações na Polônia –  segue Janina Duszejko, uma mulher amante dos animais, vivendo em um rincão remoto da campina polaca. Quando seu cachorro desaparece, ela passa a defender outros animais dos caçadores locais e acabará sendo a principal suspeita de um assassinato.
 
Holland escreveu o roteiro juntamente com Olga Tokarczuk, autora do romance sobre um serial killer, no qual o filme é baseado. Com o intrigante título de Drive Your Plough Over the Bones of the Dead – em tradução literal Conduza seu arado sobre os ossos dos mortos – o livro foi indicado ao Prêmio literário Nike em 2010.
 
Na coletiva após a projeção, Holland explicou o que a atraiu para o projeto que ela descreve como um thriller de humor negro ecológico.
 
“Eu gosto muito dos livros da Olga e quando li esse romance pela primeira vez, eu pensei que poderia dar um filme. Mas ninguém parecia considerar possível fazer sua adaptação para as telas. Um amigo produtor polonês, baseado em Berlim, me perguntou se eu estaria interessada no projeto. Eu reli o romance e disse sim, achando que seria simples de adaptar; mas, na verdade, não foi”, contou a diretora revelando que o roteiro teve várias versões.
 
“Olga fez o primeiro rascunho e depois trabalhamos juntas.  Mas o roteiro passou por muitos e muitos rascunhos. E mesmo depois, quando eu estava filmando, eu percebi que o filme  somente iria encontrar a sua forma na sala de edição”, destacou Holland que, ao final, ficou satisfeita com os resultados.
 
“Foi desafiador, tentamos coisas diferentes para encontrar a maneira certa para contar a história. É muito diferente de qualquer filme que fiz antes, mas acho que está interessante”, avaliou.
 
Agnieszka Mandat, que interpreta a personagem principal, tem algumas participações pequenas em filmes, mas é mais conhecida por seu trabalho no teatro em Cracóvia, onde também é professora na Escola de Dramaturgia local.  Holland contou que queria uma atriz que não tivesse desempenhado um papel de protagonista anteriormente.
 
“Na verdade, era para ela estar no meu primeiro filme, mas acabou não acontecendo e rolou agora, 40 anos depois. Foi fantástico trabalharmos juntas. Os jovens atores poloneses do filme a chamavam de “Professora” no set. Quando os avisava que teriam cenas com ela, eles diziam Uau! Eu acho que este filme é um grande presente para mim e também para ela”, ressaltou. 
 
Ultimamente Holland tem alcançado sucesso considerável na televisão norte-americana, dirigindo episódios populares de The Wire (2002-2008), The Killing (2011-2014), House of Cards (2013) e Burning Bush (2013).
 
Mesmo assim, não tem deixado de lado sua expressiva atuação no cinema que, conforme destacou, vive um bom momento no seu país.
 
“Acho que houve um verdadeiro renascimento do cinema polonês, e espero que assim continue. Há muitos cineastas interessantes, tanto da geração de meia idade quanto das mais jovens que estão chegando. A produção se tem mantido estável e até em crescimento nos últimos dez anos”, afirma a talentosa diretora de 68 anos, cuja obra é de fato bastante diversificada, dos roteiros originais às adaptações literárias, dos temas contemporâneos aos históricos, dos filmes de estúdio aos independentes, do cinema até as grandes séries televisivas.
 
Ao final, respondendo a uma pergunta de como resumiria seu trabalho, disse que é difícil descrever numa frase.
 
“Mas penso que meus filmes estão envelhecendo bem. Quando os assisto novamente, não tenho a impressão que eles estão datados;  ao contrário, ainda são muito frescos para mim. Acho que não faço filmes para dar respostas, mas para fazer perguntas”, definiu Holland, expressando seu reconhecimento à Berlinale.
 
“É muito grande o apoio de grandes festivais como este de Berlim para colocar o filme lá fora. É um primeiro passo fundamental e estou muito agradecida”, concluiu a diretora que, no já longínquo ano de 1981 teve muito sucesso aqui com Goraczka (Febre), concorrente na mostra oficial naquele ano. 
 

     
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