REFLEXOS DO PASSADO NO MUNDO ATUAL
     
 

PUBLICADA EM 17.02.17

Myrna Silveira Brandão

“No Intenso Agora”, de João Moreira Salles, foi o destaque ontem da Panorama Dokumente da 67ª edição do Festival de Berlim.

Seu novo trabalho era aguardado com expectativa.  Além da fama dos Salles por aqui – principalmente depois do Urso de Ouro para Central do Brasil, de Walter Salles em 1998 – “No Intenso Agora”, encerra  um jejum de 10 anos do cineasta sem lançar filmes, após a consagração de “Santiago”.
 
Além dos entusiastas aplausos após a sessão, o  comunicado da Berlinale já definia  bem o filme e a obra do cineasta: “Em tempos da ‘pós-verdade’, os narradores no mundo do cinema devem redefinir seu papel como transmissores de verdades – como críticos e ativistas – e conservar ao mesmo tempo sua postura e seu humor”.
 
“No Intenso Agora”  é narrado em primeira pessoa e reflete sobre o que revelam quatro conjuntos de imagens da década de 1960: os registros da revolta estudantil francesa em maio de 68; os vídeos  feitos por amadores durante a invasão da Tchecoslováquia em agosto do mesmo ano, quando as forças lideradas pela União Soviética puseram fim à Primavera de Praga; as filmagens do enterro de estudantes, operários e policiais mortos durante os eventos de 68 nas cidades de Paris, Lyon, Praga e Rio de Janeiro; e as cenas que uma turista – a mãe do diretor – filmou na China em 1966, ano em que se implantou no país a Grande Revolução Cultural Proletária. 
 
“Dez anos separam “No Intenso Agora” de “Santiago”. Apesar da distância, tenho a impressão de que são filmes aparentados.  Não me refiro apenas ao aspecto pessoal dos documentários, mas também ao modo como eles foram realizados.  Os dois são essencialmente filmes de arquivo, nascidos na ilha da edição”, diz o cineasta.
 
Salles também está aqui em Berlim para um importante programa  do festival: o Berlinale Talents.  Junto com o documentarista alemão Andres Veiel – que concorre ao Urso de Ouro com “Beuys” –  Salles participa de um encontro para analisar a influência de revoluções e figuras revolucionárias passadas no mundo atual.  Nesse evento deverão ser abordados os filmes com os quais ambos os cineastas estão no festival.
 
 
O filme tem de fato uma ligação com o programa da Berlinale Talents. Realizado a partir da descoberta de filmes caseiros rodados na China em 1966, durante a fase inicial e mais aguda da Revolução Cultural, foca a natureza efêmera de momentos com grande intensidade.   As imagens, todas elas de arquivo, revelam não só o estado de espírito das pessoas filmadas como também a relação entre registro e circunstância política. 
 
Salles reuniu um pequeno grupo no Lounge dos Palácios dos Festivais para uma Mesa Redonda e convidou o McCinema, ocasião em que ele deu mais detalhes do documentário, das filmagens e da receptividade que espera em Berlim.
 

     
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