DIRETORA RETORNA À BERLINALE COM SEU TEMA RECORRENTE
     
 

PUBLICADA EM 23.02.18

Myrna Silveira Brandão

“Mug”, de Malgorzata Szumowska, teve estreia mundial na 68ª edição do Festival de Berlim, onde concorre ao Urso de Ouro.

O filme segue Jacek (Mateusz Kosciukiewicz), que trabalha numa construtora,  perto da fronteira polonesa/alemã, onde uma estátua de Cristo está sendo construída. Ele leva uma vida tranquila,  ama sua namorada, seu cachorro e é fã de música heavy metal. Mas tudo muda quando ele sofre um terrível acidente no trabalho que o desfigura completamente.
 
Jacek é celebrado como mártir nacional, se torna a primeira pessoa no país a receber um transplante de rosto, mas não se reconhece mais no espelho.  
 
Entre outros, identidade é um dos aspectos desse novo filme de Szumowska,  que descreve  o angustiante conflito existencial de um homem, que perdeu-se  de si mesmo após o radical transplante facial.
 
A diretora polonesa retorna à Berlinale onde esteve em 2015 na competição oficial com “Body”, quando dividiu o prêmio de direção com  o romeno Radu Jude (“Aferim!”).  Em 2011 ganhou o Teddy Award do festival,  com “In the Name of”.
 
Szumowska, em sua obra,  tem mantido o foco em personagens complexos e críveis e em assuntos sensíveis do seu país  de fundo político e social: hipocrisia religiosa, persistência da homofobia em comunidades conservadoras e até com a ocasional condescendência de poloneses de mente liberal.
 
Seus filmes se concentram em projetos políticos e filosóficos como este, referente à sua Polônia, através dos dramas, tanto físicos quanto espirituais da sociedade.
 
Na coletiva com a imprensa, as perguntas se concentraram em torno do viés político do filme, a metáfora por trás da história e muitos elogios sobre  a impressionante maquilagem de Kosciukiewicz, que faz o personagem principal.
 
A diretora disse que o filme é uma referência ao que aconteceu na Polônia em 1989, com o surgimento do movimento que pregava a democratização do País e que ficou conhecido como “Solidariedade”.
 
“Eu queria fazer algo próximo da fábula, discutindo o poder da Igreja Católica e a postura não reativa da sociedade à realidade política do país”, disse acrescentando que o povo polonês ainda é muito influenciado sobre o que aconteceu no passado.
 
“Eu estou colocando vários questionamentos no meu filme.  E isso é meu dever”, ressaltou, enfatizando o que quis dizer por trás do drama do protagonista.
 
“A história é uma metáfora sobre o que está acontecendo lá agora. A sociedade tem medo das diferenças”, afirmou complementando.
 
“Temos muitos problemas e eu não estou escondendo nada. Mas também não estou julgando ninguém”, concluiu Szumowska, que pode sair desta edição 2018 com um prêmio debaixo do braço.
 

     
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