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Publicado em 26.05.2019
Myrna Silveira Brandão
Bacurau, de Kleber Mendonça e Juliano Dornelles ganhou o Prêmio do júri, em cerimônia realizada neste sábado (25.05) no festival de Cannes.
O filme empatou com o francês Les Misérables na categoria, terceira mais importante do festival e é a primeira vez que o Brasil conquista esse prêmio.
“Trabalhamos para a cultura no Brasil. É um filme sobre o Nordeste, sobre o Brasil, sobre educação e história”, disse Kleber, complementado por Dornelles.
“Vamos cuidar mais uns dos outros e respeitar a cultura, a educação, a ciência e o conhecimento”.
“Bacurau” retrata um pequeno povoado do sertão que sofre com a morte de Dona Carmelita, uma mulher muito querida. Dias depois, os moradores percebem que a comunidade não está mais nos mapas.
“Foi incrível mostrar esse filme num momento em que estão tentando esconder a cultura”, afirmou Kleber após a estreia.
O filme é uma distopia que imagina um Brasil num futuro próximo tomado por uma escalada de violência e por uma cisão muito evidente entre o norte e o sul.
Quanto á semelhança com o momento atual, os diretores contaram que o filme começou a ser escrito bem antes, em 2009, mas de repente a realidade pode ter influenciado o roteiro.
Entre os detalhes que remetem aos últimos acontecimentos políticos no filme, está o fato de que os nomes Marielle e Marisa Letícia foram dados para algumas personagens.
Um Certo Olhar
O outro brasileiro premiado foi Karim Ainouz com “A Vida Invisível de Euridice Gusmão”, que ganhou o troféu Um Certo Olhar. E a primeira vez também que um filme brasileiro ganha essa competição, a segunda mais importante do festival
O filme conta a história de Euridice e Guida, duas irmãs de personalidades distintas que sofrem na sociedade machista da década de 1950 no Brasil. A historia é baseada no livro homônimo de Martha Batalha.
“E importante que este prêmio de fato possa servir para incentivar o futuro do nosso cinema e a diversidade da cultura brasileira. E que possamos ter um Brasil melhor que o que a gente tem agora. Quero dedicar à minha amada Fernanda Montenegro e para todas as mulheres do mundo”, completou fazendo menção á atriz que tem uma breve participação no filme.
O diretor é famoso por filmes como “Madame Satã” (2002), “O Céu de Suely” (2006) e “Praia do Futuro” (2014) que concorreu ao Urso de Ouro em Berlim naquele ano.
Palma de Ouro vai para Coréia do Sul
O júri presidido pelo diretor mexicano Alejandro González Iñarritu deu a Palma de Ouro para “Parasite”, do sul coreano Bong Joon-ho. O filme era favorito junto com Pedro Almodóvar que disputava a Palma pela sexta vez.
O espanhol Antonio Banderas ganhou o prêmio de melhor ator por “Dolor y Gloria”. Banderas que interpreta um cineasta no ostracismo, dedicou o prêmio a Almodóvar, seu mentor.
A melhor atriz foi a anglo-americana Emily Beecham por sua interpretação de cientista e mãe divorciada em “Little Joe”, de Jessica Hausner.
O Grande Prêmio foi para a franco-senegalesa Mati Diop, primeira mulher negra africana a competir pela Palma de Ouro, com “Atlântico”, uma crônica social que aborda o tema dos migrantes do pontos de vista dos que ficaram no País.
Os irmãos Dardenne, assíduos do festival, ficaram com o Prêmio de melhor direção por “O Jovem Ahmed”, sobre a radicalização islâmica de um adolescente.
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