Festivais - TEMA RECORRENTE
     
 

19.09.13

Carlos Augusto Brandão

Kore-Eda retorna ao drama familiar em seu novo filme

Nova York
Um casal com um projeto de vida ambicioso vê sua vida desmoronar quando recebe um telefonema do hospital onde seu filho nasceu, informando que ele, hoje com seis anos, foi trocado por outro bebê na maternidade. Seu verdadeiro filho está com o outro casal que não tem o mesmo padrão de vida nem as ambições que eles projetaram para a criança. 
 
Esse drama é contado em Like Father, Like Son (Tal pai, tal filho, em tradução literal), de Hirokazu Kore-Eda, muito aplaudido ontem nas  sessões de imprensa  da 51ª edição do Festival de Nova York,  depois de ganhar em Cannes o Prêmio do Júri.
 
O diretor do aclamado Ninguém pode Saber – sobre quatro crianças que, para não serem separadas, escondem que foram abandonadas pela mãe – volta a abordar um episódio de um drama familiar específico para falar das transformações ocorridas no seu país nas últimas décadas.
 
O elenco de Like Father, Like Son tem nos papéis principais o cantor e ator Masaharu Fukuyama como Ryota, o pai bem sucedido, que, com sua meiga esposa, Midori interpretada por Machiko Ono, educa o filho Keita para que ele também siga o caminho do sucesso.
 
O diretor de 50 anos iguala adultos e crianças nas suas incertezas com a mesma  competência que demonstrou ao  retratar  o imaginário infantil em Ninguém pode Saber.
 
Kore-Eda – também autor dos belos Marobosi e Depois da Vida – explica  sua motivação para fazer o filme e seu tema recorrente sobre a família e as mazelas do seu País. Leia as principais declarações..
 
Qual a mensagem de Like Father, Like Son?
“Através da história dos dois casais eu quis provocar um debate social sobre pessoas separadas pela quantidade de ienes que possuem.  Passamos pela questão da luta de classes, mas sem fazer dela o foco central”.
 
Por que tem centrado seus filmes na questão da família e dos problemas do Japão?
 
“As pessoas ainda têm em mente a família japonesa com seus papéis bem definidos, como foi mostrado em muitos filmes de Ozu (Yasujiro), por exemplo.  Mas a situação hoje é bem diferente. Além da família, o filme também pretende abordar os temas no seu entorno, como a degradação dos valores, a opressão da mulher no Japão e a irresponsabilidade social”. 
 
Como consegue um tom tão realista, quase documental, em seus filmes?
 
“Eu fui documentarista e essa experiência tem me ajudado muito.  Neste filme, a passagem que tive pelo documentário, foi fundamental na composição do roteiro e também no trabalho com os atores”.
 
Embora tratado com leveza, o tema do filme é pesado. Que receptividade espera dos espectadores?
 
“É uma história de perdas e das dúvidas dos pais: desfazer o engano ou não? por isso tem cenas sombrias, mas ao lado das situações de angústia e tristeza,  há também momentos de alegria e esperança. Espero que os espectadores consigam identificar isso”.