Festivais - A VITALIDADE DE UM VETERANO
     
 

PUBLICADA EM 10.02.14

Carlos Augusto Brandão

Depois de Você ainda não Viu Nada, o cineasta francês Alain Resnais retorna aos palcos da Berlinale com Aimer, Boire et Chanter seu novo trabalho.

Mesmo não podendo estar presente, o cineasta – que vem realizando um filme a cada dois anos –  foi o centro das atenções na sessão de gala do filme, que concorre ao Urso de Ouro.  Aos 92 anos, ele continua em plena atividade e oferecendo seu enorme talento aos amantes do cinema no que ele tem de melhor.
 
No seu novo trabalho, Resnais buscou inspiração pela terceira vez (depois de Smoking e No Smoking em 1993 e Medos Privados em Lugares Públicos em 2006) no universo teatral de Alan Ayckbourn e mais especificamente neste, na peça Life of Riley, do dramaturgo britânico.
 
Com o elenco composto por Sabine Azéma, Hippolyte Girardot, Sandrine Kiberlain, André Dussollier, Caroline Silhol e Michel Vuillermoz , a história começa com um grupo de amigos inseparáveis  descobrindo que um deles tem poucos meses de vida. A trágica notícia trará inesperadas repercussões no círculo dos amigos.
 
O roteiro foi adaptado por Laurent Herbiet e Caroline Silhol e contou com a colaboração de Resnais, que é conhecido por não gostar de roteirizar seus filmes.
 
“Minha motivação no cinema está mais ligada aos entendimentos com a equipe técnica, ao desenvolvimento da filmagem e ao trabalho com os atores”, explica o cultuado cineasta, no material distribuído pela produção. 
 
Embora na maioria dos seus filmes, Resnais procure sempre contar com o melhor elenco, ele é por sua vez, um excelente diretor de atores, conseguindo deles um desempenho envolvente que dá credibilidade aos personagens e aos dramas que traz para as telas.
 
Assim foi com os problemas existenciais tratados em Providence, com o drama do exílio em A Guerra Acabou, com o enigma do tempo e da memória nos clássicos Ano Passado em Marienbad e Hiroshima, Meu Amor e neste Aimer, Boire et Chanter, que transmite com veracidade como acontecimentos inesperados podem transformar a vida.
 
Outro princípio que o cineasta vem seguindo com rigor é não  fazer concessões e realizar filmes comerciais. Alguns podem até ser mais populares que outros, como Meu Tio da América ou A Mesma Velha Canção, mas nada que tenha sido planejado pelo veterano cineasta, que em todos eles mantém sua coerente assinatura e seu otimismo com relação ao futuro do cinema.
 
“Eu não acredito que o cinema corra o risco de morrer, como costumam dizer. O encanto e a magia que ele tem  não mudou em 100 anos e não creio que vá mudar daqui em diante. Ele vai continuar cada vez mais vivo”, declara  reafirmando que depois de 70 anos de carreira nada mudou na sua forma de encarar o cinema. Continua sendo o que sempre foi e apenas procura ser sincero no que faz.
 
É também com sinceridade e modéstia que Resnais discorda que seu cinema seja um cinema de autor.
 
“Eu nunca me considerei um autor.  Se eu não escrevi a história, não posso me considerar autor dela.  Além disso, na equipe de um filme, tem o roteirista, o cenógrafo, o fotógrafo e eu não dirijo nenhum deles.  A minha relação com eles é de troca e de parceria e não de autoria”, ressalta com humildade.
 
Aimer, Boire et Chanter é, sem dúvida, mais uma obra na carreira de sucessos do diretor francês, que ainda tem planos de levar para as telas a vida do Marquês de Sade e um filme em quadrinhos, uma de suas grandes paixões ao lado do cinema.
 
Enquanto isso, Resnais que ganhou um Urso de Prata pela originalidade de Smoking / No Smoking em 1993 e um por sua contribuição à arte do cinema em 1998, bem que merecia levar para casa mais um prêmio nesta 64ª edição da Berlinale.