Festivais - AMALRIC FALA NO NYFF DE SUA INCURSÃO NO GÊNERO NOIR
     
 

PUBLICADA EM 29.09.14

Myrna Silveira Brandão

La Chambre Bleue, de Mathieu Amalric, foi bem recebido ontem nas prévias para a imprensa da 62ª edição do Festival de Nova York.

Adaptado do livro homônimo do belga  Georges Simenon, a história retrata a relação doentia entre um homem (Amalric) e uma mulher (Stéphanie Cléau) passada praticamente dentro do quarto de um hotel no campo.  
 
La Chambre Bleue é um filme noir, atemporal, impregnado de erotismo, culpa, desespero e o início de consciência do personagem que ele é apenas um peão num jogo maligno e inesquecível.
 
Na coletiva após a projeção, Amalric disse que o filme aconteceu por causa do produtor Paulo Branco.
 
“Comecei com o Paulo como assistente aos 20 anos.   No ano passado, em esbarrei com ele na rua.  Ele sabia que eu estava trabalhando  no roteiro de Rouge et le Noir (de Stendahal) e me perguntou se eu gostaria de fazer alguma coisa em três semanas, ou seja filmar algo nesse período de tempo. Voltei para casa, dei uma olhada naqueles livros que costumamos deixar de lado e me deparei com um pequeno livro azul, que conheço bem.  Foi assim que decidi fazer Chambre Bleue”, contou Amalric acrescentando que reviu muitos filmes antes de começar a filmar.
 
“Num primeiro instante, os filmes noir da RKO, aquelas histórias de suspense, paixão, líricas e  angustiantes, de  Jacques Tourneur, Otto Preminger, Fritz Lang... Mas também A Mulher do Lado, de François Truffaut, Eu te Amo, Eu te Amo, de Alain Resnais e  O Atalante, de Jean Vigo”.
 
Amalric se entusiasma ao lembrar passagens das filmagens, principalmente os momentos finais do julgamento.
 
“Os últimos dias das filmagens, as do processo foram incríveis.  Nós abrimos para o público o tribunal de instância desativado de  Baugé, onde filmávamos. Mostramos o juiz chegando, os juramentos, as declarações e assim por diante. Havia uma multidão para assistir, eles gritaram, aplaudiram, de repente, eu gritei: Corta!...”, dramatiza.
 
Afirmando que pretende continuar seu trabalho também atrás das câmeras, o diretor diz que nem ele sabe qual será o próximo projeto.
 
“Não sabia também quando ou se faria este, antes de o Paulo ser o desencadeador de La Chambre Bleue. Gosto das encomendas, dos desejos e das intuições das outras pessoas.  Enquanto isso, continuo o meu trabalho escrevendo Rouge et le Noir, de Stendhal”, ressalta Amalric, que estreou aos 18 anos em Les Favoris de la Lune, de Otar Iosseliani,  tem tido  carreira bem sucedida atuando, entre outros,  em filmes como O Escafandro e a Borboleta, Ervas Daninhas e A Questão Humana. Mas o ator francês sempre quis ser cineasta e,  para isso, vem trabalhando em diversos filmes, muitas vezes em funções técnicas.