Festivais - BELO E TOCANTE
     
 

PUBLICADA EM 01.10.14

Myrna Silveira Brandão

Timbuktu, do mauritano Abderahmanne Sissako, o mais importante cineasta africano, impactou ontem a plateia do Festival de Nova York na sessão prévia para a imprensa.


 
O filme – que concorreu à Palma de Ouro em Cannes / 2014 –  é inspirado numa história real. A de um casal, no Mali que foi condenado a morrer por pedradas. Embora se amassem e tivessem dois filhos, não eram casados, assim segundo os jihadistas viviam em pecado. O filme descreve a escalada de intolerância em países dominados pela Jihad. 
 
A ação se desenrola em 2012 e descreve o cotidiano da população à mercê da violência arbitrária dos extremistas. Na vila, quase tudo é proibido: roupas coloridas, o canto, a dança, o fumo e até o futebol. Roubo e adultério são punidos com a morte.
 
O filme tem uma cena que certamente vai ficar entre as mais belas e tristes do cinema.  Os fanáticos proíbem o futebol, os habitantes jogam sem bola e comemoram um gol inexistente. 
 
O diretor procura evitar uma postura maniqueísta ao revelar as emoções e a complexidade inerente a cada ser humano, incluindo os extremistas violentos.
 
Sissako está de volta ao NYFF, onde esteve em 2002 com A Espera da Felicidade e em 2011 com Bamako, ambos belíssimos e com a inconfundível assinatura do diretor.
 
Na entrevista com a imprensa – da qual participou o Mccinema –  Sissako falou sobre o filme, a emoção que permeia seu trabalho e os resultados que espera com Timbuktu.   Leia os principais trechos:

 
Sobre a origem do Timbuktu
 
“O fato de ninguém ter falado sobre o caso, foi fundamental para que eu fizesse o filme. Quando um modelo de celular é lançado, a imprensa cobre à exaustão. Esse caso mostra que estamos anestesiados ao horror no mundo”.
 

Sobre o seu papel no filme
 
“Muitas vezes são as próprias cidades e as culturas que são tomadas reféns, o que é tão perigoso ou mesmo mais perigoso do que ter duas pessoas reféns. É um ataque contra uma religião, contra uma tradição, o que é para mim, enquanto artista, algo insuportável. Eu vivi essa realidade e sofri com isso. Tentei desempenhar o meu papel no filme, um papel de testemunha”.

 
Sobre o alto grau de emoção no seu trabalho
 
“Minha  intenção sempre é a de que, ao invés do personagem vir ao espectador, este sim, vá ao encontro do personagem .Quando isso acontece é o espectador que compõe a emoção da história em cima de sua própria experiência de vida”.

 
Sobre Timbuktu ser autobiográfico
 
“Qualquer trabalho sincero é autobiográfico, seja num filme, num livro, num quadro, enfim em qualquer projeto pessoal. Quando as pessoas gostam do que fazem, as coisas brotam da alma e elas se colocam ali por inteiro.  De uma forma ou de outra, qualquer trabalho também é o resultado da nossa vivência, como somos e como vemos o mundo”.
 


Sobre a contribuição do filme para mudar o quadro adverso 
 
 “Eu queria estender a discussão para um foco mais amplo. Se ele não mudar nada, pelo menos eles saberão que nós sabemos”.