Festivais - O CIÚME SEGUNDO GARREL
     
 

24.09.13

Myrna Silveira Brandão

Diretor fala do seu novo filme selecionado para o NYFF

Nova York

La Jalousie  (O Ciúme),  de Philippe Garrel foi a atração ontem nas sessões de imprensa do Festival de Nova York.  Estrelado pelo  galã Louis Garrel (filho do diretor) a história é centrada  nas dificuldades do relacionamento humano

O filme segue um homem nos seus 30 anos, que vive um caso de amor com uma mulher. Mas há outra, com quem teve uma filha, que é mantida pela mãe. Embora visite sempre a criança, ele não tem recursos para sustentá-la.

Sua namorada é atriz e ele, também ator, usa todas as suas ligações e conhecimento para, em vão, encontrar personagens para ela. A história, filmada em preto e branco, caminha para um final sombrio.

Esse é o 24º longa do diretor e, além de Garrel, traz no elenco Esther Garrel (também filha do diretor), Anna Mouglalis e Rebecca Pacto, entre outros. 

Vindo de Veneza, onde concorreu ao Leão de Ouro e teve uma recepção tímida, o filme foi aplaudido aqui, onde Garrel de 65 anos é muito cultuado. Leia os principais trechos de suas declarações sobre  La Jalousie 

Esse é  um filme sobre o ciúme? 

“O ciúme se refere a um sentimento que toda gente sabe de imediato do que estamos falando.  Todo mundo já sentiu isso em sua vida, desde a infância e de várias formas.  Mas um dos principais aspectos do filme são os pais.  É um filme sobre relações, casal, pais, filhos, enfim sobre a relação das pessoas com a vida”.

Por que manteve o título Ciúme?

“O título foi dado quando eu estava escrevendo o rascunho do roteiro e ficou comigo durante os seis meses que levei para escrevê-lo. Então eu pensei que era possível mantê-lo. Eu cheguei até a pensar em chamar o filme  de Discórdia, mas logo me livrei dessa palavra ou ela de mim. O ciúme é pior do que discórdia, mas é também algo que todas as pessoas já sentiram, é um enigma e todo mundo já precisou lidar com ele”. 

E sobre os títulos dos dois capítulos: Eu mantive os Anjos e Faíscas em um Barril de Pólvora?

“Costumo fazer isso, é útil para organizar as filmagens. Às vezes eu me pergunto se deveria removê-los, mas sempre acabo querendo mantê-los, mesmo que isso não seja muito cinematográfico. 

‘Eu mantive os Anjos” é uma frase bastante misteriosa. Eu a ouvi  de um professor no Liceu, Montaigne, que foi muito importante para mim e que, no filme,  é representado pelo homem mais velho a quem Louis vai visitar, quase no final da história,  aquele que lhe diz que entende personagens fictícios melhor do que os da vida real. 

Da última vez que fui visitá-lo, ele já estava muito velho e eu lhe perguntei se ainda não acreditava em Deus.  E ele respondeu: Não, mas mantive os anjos. Ele já morreu, mas a frase ficou comigo.  No filme, ela se refere  mais ao fato de manter as crianças.  Ou seja, a ruptura entre um casal não deve envolver uma ruptura com a filha”. 

O roteiro foi escrito por Deruas Caroline, Arlette Langmann, Marc Cholodenko e você. Quatro escritores não é muito?

“Foi a  primeira vez que fiz isso e achei  interessante. Dois homens e duas mulheres. Na verdade, escrevi o primeiro rascunho em três meses, muito rapidamente. Então era só uma questão de adicionar pequenos retoques”.

Há espaço para improvisações?

“O ponto de partida é  a história que escrevemos, mas há grande liberdade em improvisar, o que escrevemos nem sempre são os diálogos que os atores falam. O que me interessa mais é a situação em si, o sentido. Mas nas filmagens, os atores têm espaço para improvisar”. 

Você teve dificuldade para dirigir Olga Milshtein, a menina que interpreta Charlotte, filha de Louis?

“No início, eu estava preocupado, nunca tinha dirigido uma criança. Mas Jacques Doillon –  que é muito melhor do que eu com crianças – ensinou a ela várias coisas, inclusive como estar na frente de uma câmera e eu me beneficiei muito com isso.  Acabei tendo com ela a mesma relação que eu tive com os outros atores.  Olga era ex aluna de Jacques”. 

Por que escolheu Jean-Louis Aubert para a música?

“Há muito queríamos trabalhar juntos, há uma espécie de continuidade na música dos seus filmes. Eu disse a ele que queria só música, sem letras e ele entendeu perfeitamente. Ouvre ton coeur (Abra seu coração) a música nos créditos finais, não foi composta para o filme. Mas Jean-Louis acabara de escrever quando falamos sobre o filme e concordamos que ela se encaixaria  muito bem”.