Festivais - AGNIESZKA HOLLAND IMPACTA NO NYFF
     
 

26.09.13

Carlos Augusto Brandão

Diretora polonesa fala sobre seu novo filme

Nova York

Burning Bush, minissérie dirigida por Agnieszka Holland, tem 234 minutos e, durante essas quase quatro horas,  manteve atenta  a plateia ontem na sessão prévia para a imprensa no Festival de Nova York.

Feita para a HBO, a minissérie é sobre os dramáticos acontecimentos ocorridos no auge da turbulência política na então Tchecoslováquia, quando  Holland era uma estudante em Praga e testemunhou muito do que aconteceu na época.

Dividida em três partes, narra as consequências políticas, legais e morais que se seguiram à morte do estudante checo Jan Palach, que em 1969 ateou fogo em si mesmo em Praga, em protesto contra a repressão do governo. 

Em seu filme, a talentosa diretora tece uma teia de conflitos entre os  profissionais da área jurídica, todos tentando ver, de alguma forma, seus próprios interesses. Apesar da maratona , o filme consegue a proeza de não  ser cansativo, alternando momentos de suspense político, romance  e drama de família com bastante habilidade na edição e na trilha sonora. 

Na coletiva após a projeção, da qual participou o MCcinema, Holland  – que está de volta ao festival, onde teve  ótima receptividade em 1997 com A Herdeira – falou de Burning Bush e do seu envolvimento  com o filme. Leia os principais trechos:

Até que ponto o filme é um projeto  pessoal?

Quando ocorreu o episódio com o Jan,  eu era uma estudante na escola de cinema FAMU  em Praga. Foi um momento muito importante da minha vida, eu diria que foi um tempo de iniciação em  vários níveis: pessoal, profissional, político, talvez tenha sido a fase de minhas melhores experiências. Eu nem diria que é uma história muito perto de mim, é muito mais, eu fazia parte dela.

Você estava em Praga no dia que Jan se imolou?

No dia 16 de janeiro eu estava na Polônia, tinha ido passar lá o Natal e o Ano Novo.  Mas quando voltei à Praga, as pessoas ainda estavam atônitas, assustadas e incrédulas.  Foi uma emoção muito forte, jamais vou esquecer.

Por que  decidiu fazer o filme?

O roteiro escrito por Stefan Hulik foi como um presente inesperado do destino.  Eu estava muito envolvida em tudo que ele aborda.

Você teve acesso aos documentos para contar essa história?

Sim, é claro, tive acesso a muitos documentos, mas grande parte foi destruída pelo governo. O filme  foi produzido pela HBO, que é um produtor muito especial. Eu me senti livre para  dirigir o filme exatamente como eu o via na minha mente antes de filmá-lo.

Houve  dificuldades por não ser da mesma nacionalidade de onde o fato ocorreu?

“Honestamente, acho que sou uma diretora eclética, faço  coisas que envolvem muitos estilos, realidades e culturas diferentes.  Mas às vezes ser um estranho na cultura pode levar a resultados vibrantes na telas. Além disso, ser diretor não é apenas impor sua visão, mas também estar aberto a outras realidades”.

Como tem sido a reação ao filme?

“Este é o primeiro longa-metragem dedicado a Jan Palach e as reações dos espectadores checos têm sido muito intensas, eles assistem e choram.  Muitos me dizem que esperaram 20 anos por este filme”