Festivais - MEMÓRIA DA ÁGUA
     
 

PUBLICADA EM 09.02.15

Carlos Augusto Brandão

El Botón de Nácar, do chileno Patrício Guzmán, que concorre ao Urso de Ouro, foi o destaque hoje da mostra oficial do Festival de Berlim.

 
Poético, filosófico e principalmente político, o filme é a segunda parte da trilogia inspirada no deserto, que se iniciou com Nostalgia da Luz, e que se encerrará com um documentário sobre a Cordilheira dos Andes.
 
El Botón de Nácar  trata da história recente do Chile na qual Guzmán toma por símbolos seus desertos, oceanos, vulcões, montanhas e geleiras. Segundo o diretor,  neles  estão as vozes dos povos indígenas da Patagônia, dos primeiros marinheiros ingleses e também daqueles que foram  prisioneiros políticos.  Alguns dizem que a água tem memória e o filme mostra que ela também tem voz.
 
O documentário  relaciona a história dos desaparecidos da ditadura militar na década de 1970 e o extermínio de cinco etnias do século 19 e 20.
 
Guzmán disse que a origem do filme vem de uma ideia que lhe ocorreu enquanto filmava  no deserto.
 
“Chile é um país tão raro, é  como um corredor em que passamos do polo Sul ao Planeta Marte”, diz  o diretor explicando a relação do mar com o filme.
 
“Ele é o ponto em comum entre os povos aborígenes e os desaparecidos que foram jogados em suas águas”, ressalta.
 
Seguindo com essa ideia, Guzmán acha que água é também o suporte do organismo e da terra, mas principalmente  uma fonte de memória, aquela em torno da qual gira o filme.
 
Para concluir, destacou que todo o sul é uma história lendária, assim como o distante oeste.
 
“Gosto muito de roteirizar textos documentais, buscar metáforas e associações livres ainda que não faça disso uma norma”, ressalvou o engajado diretor de 74 anos, que mais uma vez nos brinda com um filme belíssimo.