Festivais - JACQUOT FALA DO SEU FILME QUE CONCORRE AO URSO DE OURO
     
 

PUBLICADA EM 10.02.15

Myrna Silveira Brandão

Sob uma baixa temperatura, o Festival de Berlim prossegue com uma multidão na cidade aproveitando o aquecido escurinho do cinema e os bons filmes desta edição.

 
Foi o caso ontem de Journal d’ une Femme de Chambre, de Benoît Jacquot, que retorna ao festival, onde em 2012,  abriu  o evento com Adeus à Rainha (Les Adieux à la Reine).
 
Seu novo filme é uma adaptação do romance de Octave Mirbeau, que já tinha sido levado às  telas em 1946 por Jean Renoir e em 1964 por Luis Buñuel, estrelado por Jeanne Moreau
 
A história segue Célestine, uma jovem e ambiciosa mulher  que  trabalha como camareira  para uma rica família na França na virada do século 20.
 
Na coletiva após a projeção, Jacquot não escapou da pergunta sobre a diferença de sua adaptação do livro de Mirbeau para as realizadas por Renoir e Buñuel.   
 
“Já me fizeram essa pergunta, mas eu não acho que seja preciso comparar.  Os filmes de Renoir e Buñuel são diferentes um do outro e assim é também o meu”, disse o diretor acrescentando que sua abordagem enfatiza o aspecto feminista do romance. 
 
“A personagem central, é uma jovem mulher que quer ser alguém e tem que passar por situações extremas para conseguir isso que, para ela, é uma questão de vida ou morte.  No final  do século 19, criadas francesas que trabalhavam para famílias ricas eram tratadas como escravas, e ela quer se libertar dessa escravidão.   Para expressar o que acontece com ela, a  história é contada através de seu olhar”, explicou.
 
Benoît – que volta a realizar um filme de época e a trabalhar com Léa Seydoux, que esteve em Adeus, minha Rainha e agora protagoniza a empregada – só tem elogios para a atriz.
 
“Como eu já esperava, ela fez um excelente trabalho neste filme.  Foi um papel muito desafiador e ela tem um desempenho extraordinário, ressaltou. 
 
Benoît revelou que o viés político foi um dos aspectos que mais lhe interessavam neste projeto.
 
“Octave Mirbeau era um anarquista e, apesar de seu romance ser ambientado  na virada do século 20, o que ele diz ainda tem muito sobre o mundo em que vivemos e sobre a condição de muitas mulheres nos dias de hoje”, afirma o cineasta, que espera uma boa receptividade e identificação dos espectadores com a personagem.   
 
“Celéstine é bonita, sedutora,  isso é tudo o que ela tem e é sua melhor arma. O filme mostra sua condição de empregada doméstica e a forma degradante como é tratada.  Acho que os espectadores vão entender sua necessidade vital para libertar-se daquela situação”, detalhou Benoît antecipando seu novo projeto.
 
“Estou trabalhando em uma adaptação do livro The Artist Body, de  Don DeLillo, que o Paulo Branco está produzindo e me convidou para dirigi-lo”, revela.