Festivais - FILME CHILENO RECEBE APLAUSOS NA BERLINALE
     
 

PUBLICADA EM 10.02.15

Carlos Augusto Brandão

 
El Club, de Pablo Larrain foi um dos destaques ontem entre os concorrentes ao Urso de Ouro da Berlinale.
 
Os filmes do diretor chileno têm sempre uma poderosa ressonância nos tempos atuais, como já demonstrou  em Tony Manero, Post Mortem e No.
 
Isso também acontece com El Club, que  se passa numa casa  onde vive um grupo de sacerdotes que lá chegou por razões múltiplas e muito complexas. Há os que cometeram abusos e foram relegados pelas autoridades eclesiásticas, há os enfermos, há os que têm problemas existenciais e os que apenas estão velhos ou cansados.  Em qualquer dos casos, são pessoas marginalizadas pela sociedade.
 
O roteiro foi escrito a três mãos pelo dramaturgo Guillermo Calderón, o crítico e escritor Daniel Villalobos e por Larrain que, na coletiva após a prévia para a imprensa,  detalhou o processo de trabalho.
 
“Eu tinha um roteiro  previamente escrito, outras coisas foram sendo acrescentadas, colocamos tudo junto e surgiu algo muito interessante porque pudemos, entre os três roteiristas, organizar a alma do filme”, disse o diretor, destacando o viés atemporal do filme.
 
“No Chile, isso nos afeta mais porque é um tema explorado recentemente sobre sacerdotes envolvidos em casos judiciais. Como em todo filme, houve uma pesquisa, mas o resultado não tem necessariamente a ver com algo tão contingente.  Há coisas que estão ocorrendo  agora, coisas que se passaram faz muito tempo, coisas que podem nunca acontecer”, ponderou afirmando que a luz e a escuridão não podem ser separadas.
 
“Essa é a ideia do filme: mostrar que não se pode esconder as pessoas. A Igreja acredita que seus integrantes são diferenciados do resto da sociedade e esconde os religiosos para acobertar seus erros”, completou.
 
Os filmes anteriores do diretor seguem personagens singulares como foi o caso do bailarino Tony Manero, o de Mario Cornejo (em Post Mortem) e o publicitário Rene Saavedra em No.  El Club segue vários personagens, com o acréscimo de um dado importante: são pessoas que estão asiladas e todas ligadas à Igreja Católica.
 
 “O filme mostra o que acontece com qualquer grupo que se vê forçado a viver junto, ele se organiza e começa a entender o mundo de uma maneira determinada”, concluiu o diretor, complementando que mais do que a história em si, lhe fascina a história incompleta.
 
“Os espectadores podem incorporar coisas da realidade, transformá-las e fazê-las suas”, ressaltou.