Festivais - WALTER SALLES LANÇA SEU NOVO FILME EM BERLIM
     
 

PUBLICADA EM 11.02.15

Myrna Silveira Brandão

Jia Zhangke, um Homem de Fenyang, de Walter Salles, foi o destaque ontem da Panorama Documenta no Festival de Berlim.

 
O documentário é o resultado de filmagens realizadas no norte da China , onde Jia Zhangke nasceu e realizou seus primeiros longas-metragens.  O filme retrata a vida e o processo criativo do cineasta, e é centrado na estreita relação entre memória e cinema.
 
No filme, o próprio  Zhangke convida a equipe de Um Homem de Fenyang a conhecer a sua história, suas fontes de inspiração e os personagens de seus filmes.  Ele retorna aos locais onde viveu e rodou Xiao Wu, Plataforma, O Mundo, 24 City, Em Busca da Vida e Um Toque de Pecado.
 
O documentário já tem convites para vários festivais, entre outros, Istanbul e Guadalajara e previsão de estreia no Brasil no final de abril.
 
O Mccinema  participou de uma entrevista que Salles concedeu a um grupo de cinco jornalistas brasileiros. 
 
Salles lembrou que foi justamente há 17 anos, na própria  Berlinale , que ele teve contato com a obra de Zhangke.
 
“Eu fiquei extremamente sensibilizado pela maneira como as lembranças pessoais dele se transformam em memória coletiva.  Em Busca da Vida, por exemplo, é um marco do cinema.  Ele propõe um reflexo do tempo no qual ele está vivendo.  Jia registra alguma coisa que está em mutação naquele momento. O tempo se torna um personagem do filme”, destacou  Salles contando que a ideia do documentário aconteceu na Mostra de São Paulo em 2007.
 
“O projeto inicial data daí, mas nós só filmamos no período de 2013 a 2014.  Quando a gente conversou , eu disse que gostaria de trabalhar a memória do cinema dele em camadas diversas.  Mas na medida em que a gente foi filmando, ele acrescentou outras coisas como a relação com o pai, ou seja, a memória também afetiva”, contou o diretor, que não encontrou dificuldades em Fenyang para fazer o filme.
 
“Jia abraçou o filme de tal forma que tornou tudo mais fácil”, afirmou Salles, expressando o sentimento do que mudou após ele ter realizado o filme.
 
“Foi uma experiência marcante não apenas para mim, mas para toda a equipe.  Acho que o filme caracteriza tanto o diretor quanto a obra que ele construiu” concluiu, ressaltando que a extrema sensibilidade e também a simplicidade de Zhangke foram fundamentais para a sintonia que foi criada nas filmagens.
 
“Como diz o próprio Jia – nós não somos estrangeiros, nós participamos do mesmo mundo que é o mundo do cinema – assim estar de volta a Berlim com um documentário sobre ele é uma honra”, resumiu o diretor brasileiro, reiterando a motivação para ter realizado o documentário. 
 
“Cada novo filme de Jia reforça a sensação de que ele se tornou o cineasta chinês que melhor traduz o nosso tempo.  É dessa percepção que surge Um Homem de Fenyang”, disse Salles, que está aqui participando também do importante programa Berlinale Talents.