Festivais - EM BUSCA DO OURO
     
 

PUBLICADA EM 12.02.15

Carlos Augusto Brandão

Mar de Fogo, de Joel Pizzini, foi o destaque ontem da mostra de curtas-metragens do Festival de Berlim.

Único título do Brasil a concorrer a um Urso nesta edição da Berlinale,  o filme teve concorrida sessão com a presença de muitos brasileiros que moram na cidade e outros que estão aqui por causa do festival.
 
Bem no estilo característico da obra do diretor de 54 anos, Mar de Fogo é um filme-ensaio experimental sobre as pulsões inventivas de Mário Peixoto, autor de Limite (1930), um clássico do cinema mudo. Ele recria livremente a visão do cineasta, ao conceber sua obra prima, evocando ainda uma sequência delirante de seu futuro filme.
 
Nascido em Niterói, de família mato-grossense do sul, Pizzini iniciou sua carreira em 1990 com Caramujo-flor,  documentário experimental dedicado ao poeta Manoel de Barros.  Sua obra mais destacada até agora é o longa 500 Almas (2004), premiado no Festival  de Brasília e melhor documentário no Festival do Rio. Recentemente (2012) teve muito sucesso com Olho Nu sobre Ney Matogrosso.
 
O filme está concorrendo com 26 produções, de 18 países, entre outros da Argentina, Chile, EUA, Índia, Butão, Japão e Alemanha. 
 
Pizzini conversou com o Mccinema sobre a origem do filme e os resultados que espera desta seleção na Berlinale.
 
 
Qual a motivação para ter feito o filme?
 
“Limite me levou a fazer cinema.  Assisti à cópia restaurada do filme de Mário Peixoto na Cinemateca de Curitiba em meados dos anos 80 e a partir daí fui procurar o autor daquela obra desconcertante.  Ficamos amigos e Mário me revelou as principais motivações que o moveram para fazer sua obra prima:  a elaboração dos planos, a influência do cinema alemão enfim, as circunstâncias em que o filme foi produzido. Mar de Fogo é uma centelha de um projeto maior que culminará em Mundéu, A Invenção de Limite, longa que pretendo realizar no futuro próximo”.
 
Como está vendo a participação de Mar de Fogo para participar de um festival conhecido pela exigência na seleção?
 
“Acho que tem um efeito simbólico além de valorizar um trabalho de pesquisa de linguagem que desenvolvo há anos e que inclusive resultou numa bolsa residência no Arsenal em Berlim em 2012.  Fiquei muito lisonjeado com a escolha o que só aumenta a responsabilidade nesta representação na Berlinale, considerando inclusive que é o único filme brasileiro selecionado para concorrer ao Urso de Ouro, entre curtas e longas-metragens”.
 
Além disso, o que representa para o cinema a escolha do filme?
 
“O fato de o filme escolhido ser um filme essencialmente experimental que continua a tradição de um dos precursores do cinema de invenção no Brasil do início do século passado, é digno de reflexão por parte de toda a comunidade cinematográfica de nosso país.  Temos que celebrar o poder transformador da memória e ocupar esse espaço, afinal a Berlinale é um festival de ponta e pode abrir novas janelas para a nossa produção contemporânea, às vezes alijada do processo de construção da indústria”.
 
Qual receptividade espera para o filme?
 
“Um dos comentários da curadoria é que Mar de Fogo correspondeu ao que se esperava do cinema brasileiro neste momento.  Tenho esperança que possa surpreender e atingir um público, além daquele que imaginamos, que se identifique com a sua proposta estética.  Trata-se de um filme ensaio que tem uma narrativa sensorial que evoca a subjetividade, o tempo da memória e sua relação com o espaço da criação cinematográfica”.