Festivais - SUCESSOS E FRACASSOS SEGUNDO OS COEN
     
 

26.09.13

Myrna Silveira Brandão

Irmãos diretores falam do seu novo filme no NYFF

Nova York

Inside Llewyn Davis, de Joel e Ethan Coen foi mostrado ontem numa sessão prévia para a imprensa no Festival de Nova York com gente saindo pelo ladrão. Os cultuados diretores tem cadeira cativa aqui e seus filmes são sempre aguardados com muita expectativa

A história é ambientada em 1961, na cena musical de NY, quando as “folk songs” predominavam e abriram caminho para Bob Dylan.

Mas essa tragicomédia não é um retrato sobre a geração de músicos politizados que ganhou fama na época. O filme acompanha o cantor fictício Llewyn Davis, na busca pela fama e algum dinheiro que, pelo menos, lhe garantisse a sobrevivência.

Davis é talentoso, mas não consegue se destacar. Mostrando sua luta na cena folk, os diretores brincam com a indústria fonográfica atual e destacam o papel da vanguarda.

Num viés de humor negro, característica da obra da dupla, o filme é inspirado no livro The Mayor of MacDougal Street, do músico Dave van Ronk, resultando numa divertida parábola sobre sucesso e fracasso.

O guatemalteco Oscar Isaac interpreta Davis e o bom elenco inclui John Goodman (ator fetiche dos Coen) e jovens estrelas como Carey Mulligan e Justin Timberlake, que também compôs músicas para a trilha.

Na coletiva após a projeção  Joel e Ethan se revezaram nas respostas para falar sobre a realização desta comédia de erros, uma característica forte da obra dos irmãos diretores.

“O filme é sobre transição, não sobre sucesso”, disse Ethan Coen. “Não queríamos falar do movimento que teve Bob Dylan como transformador, mas da cena que lhe abriu caminho”, completou Joel.

Mas Dylan, como não podia deixar de ser, é retratado discretamente ao final  do longa, cantando Farewell.

“Quisemos sublinhar sua participação no cenário que estava surgindo. Fico até desconfortável em falar o nome dele, o Monte Rushmore da música”, elogiou Joel o mais velho dos dois, com 58 anos de idade, ao lado de Ethan de 54.

Um ponto alto do filme é a ótima interpretação de Isaac que dá a medida certa para os  momentos tragicômicos que vive o personagem.

“Até Oscar aparecer, estávamos travados, pois precisávamos de um ator que tocasse e cantasse bem. Ele foi excelente, estamos convencidos que não poderia ter sido outro”, disse Ethan, autor da ideia da inclusão de um gato, que arrasta Llewyn, por uma série de trapalhadas.

“O gato surgiu para evitar que o filme ficasse só na recriação da atmosfera”, brincou o diretor  revelando que a participação do felino deu alguns problemas no set.

“O que acontece é que cachorros fazem de tudo para satisfazer as pessoas. Já os gatos não, eles estão mais preocupados em ter prazer”, contou Ethan concordando, no entanto, que o animal é um personagem importante na história.

“No fundo é isso, Davis apenas segue Ulisses, no caso, o gato”, desconversou.

Por sinal e, como se trata de um road movie,  não é por mera coincidência que o gato se chama Ulisses, uma alusão ao célebre romance do escritor irlandês James Joyce.