|
PUBLICADA EM 28.09.15
Carlos Augusto Brandão
A abordagem da temática gay no cinema é antiga, tendo marcado presença em muitos filmes de guerra e faroestes, principalmente americanos.
Mas diferentemente da forma mais velada ou metafórica como era tratado, de uns tempos para cá, o tema tem sido mais explícito, tanto na abordagem do homossexualismo masculino quanto no feminino, casos por exemplo de “O Segredo de Brokeback Mountain”, que deu o Oscar de melhor diretor para Ang Lee em 2006 e o recente “Azul é a Cor mais Quente”, de Abdellatif Kechiche, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes.
O tema voltou a ser destaque no festival francês com “Carol”, de Todd Haynes, que foi muito aplaudido ontem numa prévia para a imprensa da 53ª edição Festival de Nova York.
Baseado no livro de Patrícia Highsmith e ambientado na conservadora década de 1950, o filme segue duas mulheres de classes sociais diferentes: uma delas, vivida por Cate Blanchett, é Carol Air uma mulher sofisticada e segura de si que está passando por uma crise no casamento. A outra, interpretada por Rooney Mara, é uma tímida vendedora de uma loja de departamentos.
Elas se conhecem por acaso quando Carol está fazendo compras de Natal num shopping e desenvolvem, de forma instantânea, uma forte atração que vai crescendo progressivamente.
O filme tem a excelente montagem do paulista radicado nos EUA Affonso Gonçalves, também responsável, entre outros, pela edição de Indomável Sonhadora (2012).
Outro ponto alto do filme é a impecável direção de arte de Jesse Rosenthal, na reconstituição dos EUA da década de 1950, bem como o desempenho dos atores, com destaque para as duas atrizes. Mara dividiu o prêmio de melhor atriz em Cannes com Emmanuelle Bercot por Mon Roi. Para elas, o diretor tem os maiores elogios.
“Elas trouxeram seriedade ao trabalho nos mínimos detalhes, a preparação, o cuidado. E de fato também houve uma química incrível, a conexão entre elas, o que não foi uma surpresa total para mim”, ressalva.
“A química acontece ou não, você não pode criar, ela está lá ou não está”, completa Mara.
Blanchett diz que a segura direção de Haynes e a sensibilidade do roteiro foram fundamentais para o bom resultado do filme.
“Duas mulheres se apaixonando é alguma coisa que não vemos frequentemente nas telas, no entanto é algo que acontece fora do controle delas e não há nada que se possa fazer. Mas não é diferente de uma mulher se apaixonar por um homem”, ressalta Blanchett, revelando que sempre fica tensa em cada sessão do filme.
“Mara está perfeita e estou consciente que Todd fez um belo filme, mas a gente nunca sabe se ele vai se conectar profundamente com os espectadores que não foram parte do processo, e por isso cada vez que o filme termina é um alívio”, diz a atriz.
Sobre as muitas sequências de não ditos, onde predomina o silêncio, Haynes explica que isso se deve à sua decisão de ser fiel ao livro e à época em que o filme é ambientado.
“Imaginem essas mulheres vivendo num mundo tão diferente em plena década de 50. A questão do silêncio é uma parte importante do livro porque Therese tem dificuldade de encontrar a sintaxe para descrever seus sentimentos por Carol, é difícil colocar isso numa linguagem”, diz o diretor complementado por Mara.
“Eu adoro essas passagens no filme, o espaço entre as palavras, eu sinto que fala mais do que a história nesses momentos”, avalia a atriz.
Falando sobre a boa acolhida a Carol, Haynes diz que, embora conheça o filme melhor do que ninguém, não tem a objetividade que os espectadores têm.
“Eu ainda estou processando a boa receptividade que Carol vem tendo. Acho que é um filme calmo, sereno e estou muito orgulhoso dele”, revela.
|