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05.10.13

Myrna Silveira Brandão

Denis apresenta seu filme no NYFF, também programado para o Festival do Rio

Nova York

Claire Denis é uma das mais interessantes diretoras do cinema contemporâneo.  Autora do inesquecível  35 Doses de Rum, ela está de volta ao Festival de Nova York, onde apresentou Minha Terra, África em 2009.

Les Salauds (Os Bastardos), seu novo trabalho, foi muito bem recebido ontem na prévia para a imprensa no NYFF. O filme também integra a programação do Festival do Rio, na Mostra Panorama Mundial. 
    
Livremente baseado no livro Santuário de William Faulkner Les Salauds é uma denúncia sobre os abusos de uma elite endinheirada, quase sempre ultrapassando os limites da lei e contribuindo para a desintegração moral e financeira da classe trabalhadora. 

O filme  segue Marco Silvestri (Vincent Lindon)  um capitão  de navio, que é chamado com urgência de volta a Paris por sua irmã, Sandra (Julie Bataille). Ela conta a Marco que Jacques (Laurent Grevill),  seu  marido, cometeu suicídio e o negócio da família, uma fábrica de calçados, está seriamente ameaçado.

Tomando conhecimento que o responsável pela tragédia é o  poderoso empresário Edouard Laporte (Michel Subor), Marco arquiteta um plano de vingança.  Com isso em mente, se muda para o prédio onde mora Raphaelle (Chiara Mastroianni) amante de Laporte. 

Os dois iniciam um romance, que deixa a duvida se a aproximação de Marco com Raphaelle  faz parte do seu plano.

O filme discute o retrato das mulheres como vítimas e é certamente o trabalho mais sombrio da talentosa diretora, conhecida pela riqueza de detalhes e sons inquietantes nos seus filmes.

Já na abertura, Denis e seu roteirista habitual, Jean-Pol Fargeau, preparam os espectadores para a história dramática que vão assistir. A câmera segue um homem à beira do suicídio, caminhando em seu escritório com a chuva caindo do lado de fora. A dramaticidade é acentuada pelo trabalho inigualável de Agnès Godard, cuja câmera, ao invés de seguir apenas padrões rotineiros, sempre consegue localizar pontos focais ligados à trama.

Todo o elenco está bem, mas Clara Mastroianni tem um dos seus melhores desempenhos no papel de Raphaelle, resultado que ela credita a Denis.

“Ela nos coloca em situações que nos leva a mergulhar nas questões conflitantes da trama, mas paralelamente nos dá a certeza que podemos contar com seu total apoio e envolvimento. Quando eu comecei a  atuar,  meu sonho era trabalhar com Claire Denis . Eu gosto das visões que ela tem da vida e as histórias que conta, mas também da forma como trabalha com os atores”, elogia a atriz.

Denis, por sua vez, diz que não fica satisfeita com seu trabalho quando não pode compartilhá-lo com a equipe e os atores.

“Eu odeio uma situação, na qual sou a única a acreditar e querer uma determinada cena. Eu preciso convencer a todos e, se não consigo,  fico muito mal”, afirma.

Sempre trabalhando com a mesma equipe – o  roteirista Jean-Pol Fargeau e a cinegrafista  Agnès Godard – Dennis vê vantagens, mas também alguns problemas nisso.

“Trabalhar sempre com a mesma equipe facilita as coisas, no entanto às vezes é preciso cuidado para não virar um hábito ou acabar nos entediando a todos”, filosofa ela, negando qualquer ligação ou metáfora do enredo de  Les Salauds com a situação atual da França.

“O filme é uma ficção, não há qualquer metáfora por trás dele”, assegura.