Festivais - O RETORNO DE UM VETERANO
     
 

09.10.13

Carlos Augusto Brandão

O esquecido Bruce Dern estrela filme dirigido por Payne

Nova York

Embora tenha feito mais de 80 filmes, entre eles o clássico Amargo Regresso, Bruce Dern foi sempre coadjuvante e andava esquecido. 

Agora, aos 77 anos virou protagonista de Nebraska, novo filme de Alexander Payne, ganhou a Palma de melhor ator em Cannes e já desponta como um favorito ao Oscar em 2014.

Dern, bem como o filme de Payne, foram muito aplaudidos na 51ª edição do Festival de Nova York.

Payne, por sua vez, já tem cadeira cativa aqui, desde 2002 quando apresentou o ótimo As Confissões de Schmidt. De  lá para cá, já encerrou o evento em duas ocasiões: em 2004 com Sideways e em 2011 com Os Descendentes.

Rodado em preto e branco, Nebraska é uma crônica poética das sequelas da crise econômica de 2008 nos Estados Unidos. O próprio Payne o define como um relato da Nova Grande Depressão.

A trama narra a viagem do septuagenário Woody (Dern),  com seu filho David (Will Forte) a fim de coletar um prêmio, bem como seus encontros com parentes e amigos assombrados pelos fantasmas da recessão e do desemprego.

No meio do caminho para o local em que haverá a coleta do suposto prêmio, pai e filho precisam parar na casa da família, onde as histórias do passado se juntam à mesquinharia do presente na fórmula drama / comédia que Payne sabe equilibrar como poucos.

Com um humor melancólico, o diretor aborda não apenas a relação entre pai e filho, mas também como a crise financeira afetou o interior dos EUA e os próprios ideais do sonho americano.

Payne ressalta que não teve a intenção de traçar um painel social desse momento.

“Eu tive o roteiro pronto há nove anos quando a situação econômica era outra e, num momento que coincidiu com este, consegui filmá-lo”, conta Payne dizendo que o filme tem uma ligação forte com a realidade. 

“É uma história que é ao mesmo tempo engraçada e triste, um pouco como a vida. O autor do livro realmente viveu o que acontece na trama, então ele está descrevendo sua experiência pessoal”, enfatiza o diretor explicando a relação que pai e filho têm no filme.

“O filho quer oferecer a seu pai idoso um pouco mais de dignidade. Meus pais estão ficando numa situação semelhante e eu também gostaria que eles envelhecessem com dignidade. A velhice pode nos diminuir, e nos fazer perdê-la. Temos que cuidar para que isso não aconteça”, alerta  Payne que, para fazer o filme, precisou voltar ao seu Estado natal e isso foi essencial para que aceitasse dirigir o roteiro de Nelson. 

“Não teria feito este longa se não tivesse nascido em Nebraska, mas sou de Omaha, cidade grande. A região que retratamos era estranha mesmo para mim”, ressalva ele, revelando que histórias como as retratadas em Os Descendentes e Nebraska  tem sido seus temas preferidos.

Sobre a opção pelo P&B, Payne diz que isso se deve à época em que a história é ambientada.

“É um filme da era da depressão, por isso que eu quis fazê-lo em preto e branco”, afirma.

O diretor confessa que fazer um filme com Dern era um projeto antigo.

“Dirigi a filha dele  (Laura Dern)  no começo da minha carreira, em Ruth em Questão (1996), e desde então pensava em trabalhar com Bruce”, diz o diretor com muitos elogios para o ator. 

“Ele me ofereceu sua confiança e apoiou minhas escolhas. É a maior bênção que um diretor pode receber”, reconhece.

Dern, por sua vez, explica como Payne trabalha com os atores e como se sentiu fazendo o filme. 

“Há uma diferença de tratamento de diretor para diretor quando pede a um ator para fazer algo. Diferentemente de alguns, Payne está lá todo o tempo junto, mantém  uma equipe no local para nos ajudar a relaxar e a gente não fica com a sensação que está correndo riscos”, elogia. 

Embora tenha feito tantos filmes  Dern disse que tem a impressão de estar começando.

“É como se Nebraska fosse meu primeiro filme”, declara  o veterano ator que estava no ostracismo, rejeitado pelos estúdios por seu temperamento explosivo.