Festivais - NERUDA SEGUNDO LARRAIN
     
 

PUBLICADA EM 20.09.16

Myrna Silveira Brandão

O diretor chileno Pablo Larrain retorna pela quarta vez ao Festival de Nova York.

Em 2008, ele foi selecionado  com “Tony Manero”, história de um bailarino ambientada na época da ditadura; em 2010, com “Post Mortem”, sobre o outro 11 de setembro, o chileno;  e, em 2012 com “No”, que deu continuidade à sua trilogia sobre a ditadura de Pinochet.
 
“Neruda”, seu novo filme, que  foi lançado na Semana dos Realizadores em Cannes, é um dos destaques da 54ª edição do NYFF.
 
O diretor –  que preferiu inserir “Neruda” num momento histórico específico mostrando-o como um poeta do povo, intelectuais e trabalhadores – tem tido a preocupação de qualificar o filme como uma “anti biografia”.
 
A história começa em 1948, pouco antes de o poeta chileno (1904-1973) ser forçado a se esconder.  Senador e comunista, Neruda foi considerado inimigo do Estado quando condenou violentamente e em público o presidente Gabriel González Videla.  Expulso do Senado e de sua casa, passou a viver na clandestinidade  junto com a mulher Delia, e obsessivamente perseguido por um policial.
 
Com desempenhos excelentes, o poeta é vivido por Luis Gnecco, Délia por Mercedes Moran e o policial é interpretado por Gael García Bernal.
 
Larraín explica por que escolheu a opção de não realizar uma biografia tradicional.
 
“A poesia de Neruda é multifacetada, ele escreveu sobre inúmeras coisas de várias formas.  Por isso preferimos centrar nos seus poemas ligados à política e ideologia.  É terrivelmente complexo porque sua poesia é muito variada”, conta  o diretor, que tem muitos elogios para a interpretação de Gnecco e sua determinação para viver Neruda.  
 
“Nós já havíamos trabalhado juntos outras vezes, inclusive em “No”.   Eu o procurei e o convidei, ressalvando que ele precisava engordar 25 quilos. Embora ele acabasse sair de um regime para emagrecer, Gnecco concordou e foi fantástico”, diz complementando que Gael também era sua primeira opção.
 
“Garrel também trabalhou em “No” e estava na minha mente para “Neruda” desde o começo, desde que estávamos desenvolvendo o roteiro”, ressalta  Larraín que, pelo menos por enquanto, não pretende realizar um filme sobre Salvador Allende, como tem sido comentado.
 
“Para fazer um filme sobre alguém é preciso ter alguma empatia, o que não acontece neste caso. Não nego que já pensei nisso algumas vezes, mas não é meu objetivo, na verdade acho que não o farei”, afirma o talentoso cineasta de 40 anos.