Festivais - UM CONTO ROMENO
     
 

PUBLICADA EM 21.09.16

Carlos Augusto Brandão

“Sieranevada”, de Cristi Puiu, é um dos destaques do Festival de Nova York nesta 54ª edição

O cineasta já havia impactado o NYFF 2005 com “A Morte do Senhor Lazarescu”, premiado em  Cannes como melhor filme da Mostra Um Certo Olhar.
 
Já no  seu terceiro longa (o primeiro foi “Stuff and Dough”), Puiu ficou conhecido internacionalmente quando ganhou o Urso de Ouro de melhor curta no Festival de Berlim de 2004, com “Cigarettes and Coffee”. 
 
Um dos nomes que alavancaram a nova onda do cinema romeno, Puiu  investe, no seu novo filme,  mais uma vez no naturalismo para contar a história de uma família que se reúne durante o funeral do patriarca.
 
Durante quase três horas de projeção, parentes do morto, entre filhos, netos e sua mãe comunista, se cruzam pelos cômodos do apartamento no centro de Bucareste.
 
Enquanto esperam pelo padre que celebrará a cerimônia, antigas rugas e novas discussões – inspiradas pelo ataque terrorista à redação da revista “Charlie Hebdo”, em Paris no ano passado – acontecem se misturando ao ritual da despedida.
 
A duração dos planos e sequências, os visíveis improvisos a partir de um determinado ponto de partida, a  presença permanente da câmera que a tudo vê e a tudo registra são pontos altos no filme. 
 
A câmera móvel e fluída –  quase um personagem –  lembra, muitas vezes, os trabalhos de Fred Wiseman e John Cassavetes.
 
Puiu explica que a  origem do roteiro de Sieranevada tem muitas conexões com sua vida pessoal.
 
“Meu pai morreu há nove anos.  Na época, eu estava participando do júri da mostra Um Certo Olhar em Cannes e voltei para casa imediatamente. Foi um funeral estranho, havia pessoas que eu não conhecia, vizinhos e amigos de bar do meu pai”, diz o diretor lembrando que discutiu com um dos amigos de sua mãe por causa do passado comunista do país.
 
“Mais estranho ainda é que anos depois quando procurei algumas pessoas que participaram do memorial para escrever o roteiro, todos tinham uma versão diferente para contar”, constata.
 
O diretor de 39 anos revela que Eric Rohmer é sua maior influência e realmente há uma semelhança difusa com a obra do diretor francês, como a mudança que vai ocorrendo nos personagens, a ambiguidade que domina suas vidas, a complexidade do tema que está sendo abordado. 
 
Diferentemente de Rohmer, no entanto, Puiu não pretende entrar em discussões filosóficas sobre a religião ou o significado da vida.  Como o anterior, seu filme é cru, direto e apenas segue com a ideia de mostrar uma sociedade que considera enferma.