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PUBLICADA EM 22.09.16
Carlos Augusto Brandão
Os diretores romenos são sempre aguardados no Festival de Nova York com expectativa e casa cheia.
Seus filmes têm tido ótima receptividade no festival como aconteceu com “A Morte do Senhor Lazarescu”, de Cristi Puiu; “Polícia, Adjetivo”, de Corneliu Porumboiu; e “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”, de Christian Mungiu, que está de volta ao festival com o ótimo “Bacalaureat”.
O filme vem repetindo o sucesso que teve em Cannes, onde Mungiu dividiu o prêmio de melhor diretor com Olivier Assayas por Personal Shopper, que também integra a programação do NYFF neste ano.
A trama de Bacalaureat (formatura em tradução literal) é construída em torno de Romeo Aldea (Adrian Titieni), médico de uma pequena cidade da Transilvânia, que preparou a filha para ganhar uma bolsa de estudos e ir estudar na Inglaterra, após a conclusão do colegial.
Ás vésperas dos exames finais, a jovem sofre uma violência e põe em risco os planos de Romeo para garantir seu futuro longe da Romênia.
Ele então vai tentar tudo para contornar o problema, utilizando uma engrenagem estratégica, envolvendo polícia e avaliadores, para obter a nota necessária para a aprovação. O filme mostra um debate sobre os limites que podem ser ultrapassados para alcançar um objetivo crucial.
Para o pai, tudo é válido, quaisquer que sejam as transgressões éticas e legais, para que sua filha deixe a Romênia. Cercado de pequenos atos de corrupção e distribuição de propinas, tudo compromete os princípios que ele, como pai, ensinou para a filha.
Mungiu explica que o filme é sobre um pai que escolhe o que acha ser o melhor para a filha, seja ensinando-a a viver no mundo atual ou lutar, da forma que for possível, para mudá-lo.
“Mas ele é muito mais do que uma história individual. O drama de Romeo é também sobre a sociedade e suas instituições”, resume Mungiu deixando um questionamento em aberto: se realmente há uma relação entre compromisso, corrupção, educação e pobreza.
O engajado diretor em 2012 impactou o NYFF com “Além das Montanhas”, uma história de livre arbítrio, possessão e exorcismo. Mas neste seu novo filme vai mais além traçando um diagnóstico extremamente sombrio do seu país, representado como um território dominado pela violência, desesperança e o individualismo desenfreado do capitalismo.
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