Festivais - GHOST STORY PSICOLÓGICO
     
 

PUBLICADA EM 06.10.16

Myrna Silveira Brandão

“Personal Shopper”, de Olivier Assayas, é um dos destaques da 54ª edição do Festival de Nova York.

Assayas está de volta ao NYFF, onde já tinha estado em 1998 com “Fim de Agosto, Início de Setembro”, em 2004 com “Clean”, em 2010 com  “Carlos” e  em 2014 com “Acima das Nuvens”.
 
Vindo de Cannes, onde concorreu à Palma, o filme não teve uma boa receptividade no festival francês, embora tenha saído de lá com o prêmio de melhor diretor dividido com Cristian Mungiu por Bacalaureat.
 
Em Personal Shopper, Assayas  volta a trabalhar com Kriswten Stewart e o elenco inclui ainda Lars Eidinger, Anders Danielsen Le, Nora von Waldstatten, Benjamin Biolay, David Bowles e Benoit Peverelli.
 
Assayas utiliza o estilo ghost story para dar esse tênue viés ao drama psicológico. O roteiro segue Maureen (Stewart),  que trabalha como assistente de uma celebridade (Waldstatten) sendo encarregada de fazer suas compras pessoais de roupas e joias. Ainda vivendo o luto pelo falecimento súbito do seu irmão gêmeo, ela, que se diz médium embora não acredite em vida após a morte, insiste em morar em Paris a fim de esperar algum sinal do espírito do rapaz.
 
As sequências envolvendo espíritos são assustadoras, a andança de Maureen pelo casarão escurecido é tensa e o momento no qual a moça recebe uma sequência de mensagens acumuladas, indicando a aproximação de uma ameaça, é angustiante.
 
Fora isso, o filme aparenta estar em busca de uma historia para contar e nem Kristen, muito boa no papel, pode contornar.
 
Assayas, por sinal, é um bom diretor de atores, embora o elenco, que desempenha com louvor os esquemáticos personagens da história, também ajude.
 
Conhecido por fazer filmes inusitados, o cineasta explica as razões de sua predileção.
 
“Entendo o cinema como arte e não como uma forma de comunicação que deva se preocupar apenas com a informação e repetir coisas que já foram ditas e vistas”, ressalta.  
 
Sobre o elenco, diz que quis trabalhar novamente com Stewart, porque pressentia que havia alguma coisa de especial nela, algo diferente do que já sabia a seu respeito.
 
Sentia que ela ainda não tinha explorado, nos filmes, uma dimensão completa de sua personalidade e acho que acertei. O que é interessante para mim é o fluxo entre o ícone e o ser humano”, compara.
 
Embora em seus últimos filmes tenha optado por produções internacionais, Assayas afirma que isso não tem influído na forma como os realiza.  
 
“Minha maneira de filmar não muda, conforme quem está financiando o filme. No caso, um ponto importante foi poder trabalhar com atores estrangeiros e rodar cenas em vários idiomas. Na maior parte das vezes, para ter ajuda pública, um filme deve ter elenco e idioma nacionais.  Personal Shopper  seria difícil produzir apenas com capitais franceses. O que escrevo é um pouco inusitado comparado com os critérios da indústria cinematográfica” , afirma Assayas concluindo que isso tem ajudado na busca de financiamento para os  próximos filmes e também na composição do elenco.
 
“Nos EUA, especialmente desde o sucesso de L’Heure d’ Été (Horas de Verão, 2008) e Carlos (2010), ganhei uma notoriedade relativa, criando um atalho que aguça a curiosidade de alguns atores. Essa forma, sem território definido me agrada muito, ninguém me incomoda”, destaca o cineasta de 61 anos.