Festivais - RENASCENDO PARA A VIDA
     
 

PUBLICADA EM 15.10.16

Myrna Silveira Brandão

A 54ª edição do Festival de Nova York foi palco ontem do lançamento para o público americano, de “L’Avenir”, de Mia Hansen-Love.

O filme integrou a mostra competitiva do último Festival de Berlim, onde Hansen-Love ganhou o Urso de Prata de melhor diretora.
 
Aos 36 anos, a cineasta francesa vem subindo no conceito da crítica com filmes como “O Pai dos Meus Filhos” (2009) e “Adeus, Primeiro Amor “.  
 
Protagonizado  por Isabelle Huppert e André Marcon, o ótimo elenco  de “L’Avenir” inclui ainda Roman Kolinka e Edith Scob, entre outros.
 
A história gira em torno de Nathalie (Huppert) e Heinz (Marcon), dois professores de filosofia casados há  muitos anos e com  dois filhos adultos.
 
Nathalie dedica seu tempo aos livros que publica, a seus ex-alunos que já se tornaram seus amigos e especialmente à sua possessiva mãe.
 
Nathalie e Heinz estão intimamente ligados muito mais por hábito e por seus interesses intelectuais comuns do que por amor.  Um dia, Heinz diz a Nathalie que se apaixonou por outra mulher e que está se encontrando com ela.
 
Ao mesmo tempo, Nathalie é confrontada com a morte da mãe e a solidão. O verão está começando e, também para ela, este momento pode ser o início de uma nova vida.
 
A diretora revela que sua história de vida tem tudo a ver com o filme.
 
“A trama é o retrato de uma mulher, um pouco inspirada na vida de minha mãe, que era professora de filosofia”, conta a cineasta complementando que seu filme é sobre pessoas que ela conhece bem.
 
“Com isso,  não estou afirmando  que é preciso conhecer as pessoas ou falar somente coisas que conhecemos bem, mas de repente pode ser uma boa coisa.  É como dizia Rohmer (Eric Rohmer) – quando o criticavam por fazer filmes sobre as mesmas coisas – “Eu faço filmes sobre as coisas que eu sei”, lembra.
 
Sobre comentários surgidos que seu filme é muito sombrio, diz que não vê assim, até porque ele foi escrito quase como uma comédia.
 
“Mas talvez seja mesmo um pouco sombrio porque a história é sobre solidão, sobre o que é ser uma mulher com determinada idade, quando o mundo desmorona porque o marido a deixou, os filhos já foram embora, sua mãe morre... enfim, o que é ser mulher nessa faixa etária e com todas essas questões”, reconhece.
 
Sobre Huppert para protagonista, a cineasta revela que ela foi fundamental para que o filme decolasse.
 
“Eu comecei a escrever o roteiro quando estava filmando “Eden”, nem tinha certeza se conseguiria chegar ao final do projeto. Então comecei a pensar em Isabelle para o papel e ela se encaixou tão bem, acho que tudo se tornou real graças a ela”, ressalta com muitos elogios para a atriz.
 
Hansen-Love foi assistente de Olivier Assayas (61) com quem é casada e iniciou sua carreira como atriz no filme do diretor francês  “Late August, Early September” (1998).
 
Assim a pergunta se os dois discutem seus filmes um com o outro é quase  inevitável.
 
“Eu o consulto o tempo todo e continuo pedindo-lhe conselhos, mas  não acho que ele precise muito dos meus ”, diz complementando.  
 
“Talvez algum dia eu faça um filme sobre isso, algo assim como “Dois Cineastas”. Claro que será uma coisa mais ou menos autobiográfica”, define.