Festivais - TERROR PSICOLÓGICO
     
 

PUBLICADA EM 12.10.16

Myrna Silveira Brandão

Olivier Assayas já encantou seus admiradores várias vezes como aconteceu em 1998 com “Fim de Agosto, Início de Setembro”, em 2004 com “Clean”, em 2010 com “Carlos” e em 2014 com “Acima das Nuvens”.

Por isso, “Personal Shopper” era aguardado com expectativa, mas desta vez seu novo filme não tem tido  a mesma boa receptividade do público e crítica.
 
Essa rejeição, por sinal, já tinha acontecido em Cannes, onde concorreu à Palma, embora o cineasta francês tenha saído de lá com o prêmio de melhor diretor (dividido com Cristian Mungiu por Bacalaureat) e selecionado para integrar a excelente programação desta 18ª edição do Festival do Rio.
 
Em Personal Shopper ele volta a trabalhar com Kriswten Stewart e o elenco inclui ainda Lars Eidinger, Anders Danielsen Le, Nora von Waldstatten, Benjamin Biolay, David Bowles e Benoit Peverelli.
 
O filme segue Maureen (Stewart), que trabalha como assistente de uma celebridade (Waldstatten) sendo encarregada de fazer suas compras pessoais de roupas e joias. Ainda vivendo o luto pelo falecimento súbito do seu irmão gêmeo, ela, que se diz médium embora não acredite em vida após a morte, insiste em morar em Paris a fim de esperar algum sinal do espírito do rapaz.
 
As sequências envolvendo espíritos são assustadoras, a andança de Maureen pelo casarão escurecido é tensa e o momento no qual a moça recebe uma sequência de mensagens acumuladas, indicando a aproximação de uma ameaça, é angustiante.
 
O diretor conduz a história no seu conhecido estilo de ir costurando situações no cotidiano dos personagens, ao tempo em que vai mostrando os dramas existenciais provocados pelas relações entre as pessoas e as inevitáveis transformações da vida.
 
Assayas é um bom diretor de atores e o elenco desempenha com louvor seus esquemáticos personagens, mas fora isso, o filme aparenta estar em busca de uma história para contar.
 
Stewart, com ótimo desempenho, tem um papel importante neste misto de  ghost story com drama psicológico.  O diretor explica porque decidiu trabalhar novamente com a atriz.
 
Sentia que ela ainda não tinha explorado, nos filmes, uma dimensão completa de sua personalidade e acho que acertei. O que é interessante para mim é o fluxo entre o ícone e o ser humano”, afirma acrescentando que a opção por produções  internacionais não influiu na forma como realiza seus filmes.
 
“Minha maneira de filmar não muda, conforme quem está financiando o filme. No caso, um ponto importante foi poder trabalhar com atores estrangeiros e rodar cenas em vários idiomas. Na maior parte das vezes, para ter ajuda pública, um filme deve ter elenco e idioma nacionais”, ressalta dizendo que seria difícil produzir Personal Shopper apenas com capitais franceses.
 
“O que escrevo é um pouco diferente comparado com os critérios da indústria cinematográfica, de modo geral. Isso tem ajudado não só na busca de financiamento para os próximos filmes, mas  também na composição do elenco”.
 
Sobre sua predileção por fazer sempre filmes inusitados, tem uma explicação bem próxima do seu estilo de fazer filmes.
 
“Entendo o cinema como arte e não como uma forma de comunicação que deva se preocupar apenas com a informação e repetir coisas que já foram ditas e vistas”, afirma Assayas, que após o sucesso de principalmente Horas de Verão, (2008) e Carlos (2010), conseguiu criar um atalho que aguça a curiosidade de atores americanos desejosos de trabalhar com ele.